16 dezembro 2008
Ivo Perelman - Ivo (1989)
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A Editio Princeps lançou o disco duplo "The Complete Ibeji Sessions", uma edição especial limitada que reúne os álbuns "Soccer Land" (1994) e "Tapeba Songs" (1996) mais faixas bônus. Confira.
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Editio Princeps has released a double CD set containing the albums "Soccer Land" (1994) and "Tapeba Songs" (1996) plus bonus tracks, as a special limited edition. Check it out.
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Ivo Perelman nasceu na cidade de São Paulo no dia 12 de janeiro de 1961. O intenso tenorista brasileiro combina juntos o fogo emocional de um Albert Ayler com um forte respeito pelas melodias. Após iniciar os estudos como guitarrista clássico, Perelman também tocou violoncelo, piano, trombone e clarineta antes de se decidir pelo sax-tenor.
O estilo passional trouxe dificuldades em ser aceito de imediato, mas conseguiu montar uma carreira através de sucessivos álbuns gravados para os selos K2B2, Enja, Ibeji, GM, Leo Lab e Cadence. Em sua gravações contou com sidemen da qualidade de um Airto Moreira, Flora Purim, Eliane Elias, Buell Neidlinger e Joanne Brackeen.
No disco "Man Of Forest" Ivo Perelman funde a música brasileira com o jazz criativo, num original tributo ao grande compositor clássico brasileiro, Heitor Villa-Lobos. Perelman utiliza os temas de Villa-Lobos como um ponto de partida, mas os resultados colhidos desse fusion nos remetem a um jazz inicial.
A pianista Joanne Brackeen se apresenta em três temas, entre eles a valsa modal "Veleiro" e a balada "Rasga Coracão", mas o forte do disco é a interação entre o tenorista e o acordeom de Dom Salvador e os percussionistas em "Cantiga Caicó".
Ivo Perelman possui um som intenso, um completo controle do instrumento e um estilo emocional que lembra Archie Shepp nos seus primórdios. O disco "Revelation" foi gravado quatro horas depois de Ivo Perelman ter terminado as sessões de "Slaves of Job" para a CIMP. "Revelation" reuniu o baixista Dominic Duval, o baterista Jay Rosen e o guitarrista Rory Stuart.
"Revelation" é na sua essência uma jam session informal; os instrumentistas improvisam sem ter qualquer preparação; mas o quarteto demonstra coesão e entusiasmo no material apresentado por Perelman, Duval e Stuart e interpretações pouco ortodoxas de "Auld Lang Syne" e do clássico de Duke Ellington, "In a Sentimental Mood".
Em "Sieiro", além do sax-tenor de Perelman, na banda estão o baixista Dominic Duval, o baterista Jay Rosen e a grande novidade, o violoncelista Thomas Ulrich. Segundo o próprio Perelman, "Enquanto houver alguém que banque meus discos, eu vou lá e faço. Além de ser uma experiência mágica, a gravação é o melhor fator de crescimento na arte em que estou fazendo. É graças a ela que posso avaliar para onde a minha música está indo".
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For his recording debut, Ivo Perelman performs seven folk melodies, five of which are traditional Brazilian children's songs. A powerful tenor player whose style and sound at times recalls Albert Ayler (without the vibrato), Gato Barbieri and Clifford Jordan, Perelman uses the simple melodies as points of departure and places to land after his intense and fairly free but melodic improvisations. The first three songs co-feature vocalist Flora Purim who is at the top of her game on the haunting "Nesta Rua" and the lighthearted but explorative "The Carnation and the Rose." Two of the other pieces have Perelman dueting with pianist Eliane Elias. The two bassists John Patitucci and Buell Neidlinger work together quite well, Don Preston takes a wild synthesizer solo on "The Carnation and the Rose" and both drummer Peter Erskine and percussionist Airto are colorful in support. But the main star throughout the CD is Ivo Perelman whose distinctive sound, relative ease in the falsetto register and creative spirit were already quite impressive at this early point in his career.
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03 dezembro 2008
Bud Shank, João Donato e Rosinha de Valença - Bud Shank Donato Rosinha de Valença (1965)
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João Donato é um dos indicados para o Prêmio Faz Diferença, do Jornal O Globo, na categoria Música. Para quem acredita que João Donato realmente faz diferença, é só clicar aqui, entrar na seção Segundo Caderno Música, e votar.
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João Donato was nominated for Prêmio Faz Diferença, from O Globo newspaper, in the Music category. Click here to help him win it. Just click on Segundo Caderno Música, and vote for him.
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É tempo de João Donato, mais uma vez. Aliás, é tempo de Donato há quase 60 anos, se pensarmos que o compositor, cantor, arranjador e multiinstrumentista tem como marco inicial de sua carreira profissional o ano de 1949. Ou antes ainda, se navegarmos mais longe no tempo, voltando à época em que, garoto em Rio Branco (AC), já arriscava os primeiros precoces dedilhados no acordeon. E também agora. Comprovando sua proverbial capacidade produtiva, Donato acaba de lançar simultaneamente dois discos bem diferentes. "Uma tarde com Bud Shank & João Donato" (Biscoito Fino) promove o reencontro do brasileiro com o saxofonista norte-americano Shank, 42 anos depois do lançamento de "Bud Shank & His Brazilian Friends" ("Bud Shank Donato Rosinha de Valença"), de 1965. E "O piano de João Donato" (Deckdisc) marca a estréia do músico no formato de piano solo, reinterpretando músicas que marcaram sua trajetória. Em um agradável fim de tarde, João abriu sua casa na Urca (Zona Sul do Rio de Janeiro) para falar do presente e do passado de sua carreira. E também para explicar como os dois novos discos se encaixam dentro de sua visão pessoal sobre a música - a qual, passados tantos anos, segue a mesma.
"Nesses anos todos meu método não mudou muito. Todas as músicas, na verdade, se parecem umas com as outras. Tem as sutilezas do desenho, os traços individuais de cada um, mas não saem muito desse esquema. Se ficar muito diferente, ninguém entende", explica Donato, 72 anos. Tanto o disco de jazz gravou com Bud Shank quanto o álbum de piano solo seguiram a lógica descontraída e improvisada que marca o trabalho do compositor. "Em 2004 reencontrei o Bud no festival Chivas Jazz, aqui no Rio. Desde os anos 60 nós só nos víamos esporadicamente. Perguntei na cara: 'quer gravar um disco?' Então tá, fomos lá. Ficamos um sábado e um domingo gravando, às pressas, de uma hora para outra. Tem faixas que não têm baixo nem bateria, porque não deu tempo de achar gente para nos acompanhar. Bud declarou que rememorou vários episódios de sua vida, fez umas viagens durante as gravações. Ele disse que nunca tinha ido tão longe. Foi muito animador", narra Donato.
"O piano de João Donato" é um disco de memórias musicais, mas nem por isso Donato abdicou de seu approach espontâneo. "São músicas que eu gosto de ouvir, que acho bonitas. Há muito tempo, desde quando era adolescente, essas músicas me chamavam a atenção", diz o compositor, referindo-se aos temas de autores como Stan Kenton, Neil Hefti e Horace Silver que estão no CD. "Eu chegava no estúdio e tocava o que me desse na telha. E depois não me lembro o que entrou e o que ficou de fora. Não foi um disco planejado. Não pensei 'Ah, o que eu devo tocar?' Eu dizia: 'Vamos gravar 'Manhã de carnaval' e gravava. Tinha um cardápio de umas 20 canções, mas acabam entrando outras, algumas até que não existiam... Sempre gravei assim. Já no "Muito à Vontade" (de 1963) tem várias músicas que eu fiz na hora no estúdio".
A figura de Donato é tão associada ao piano que é difícil acreditar que só agora ele gravou um disco solo ao instrumento. Sucessos como "A Rã" (com Caetano Veloso), "Bananeira" ou "Amazonas" (com o irmão Lysias Ênio) são tão conhecidos pela batida inconfundível do pianista quanto pela melodia vocal. Mais surpreendente é relembrar que, nos primeiros anos de sua carreira, Donato era especialista em acordeon. Mas, segundo ele mesmo lembra, o piano sempre esteve por ali, rondando. "Quando eu acordava de manhã - eu dormia em rede, no Acre, não tinha cama - ouvia minha irmã Inês tocando escalas no piano. E eu passava por ali e ficava brincando, passando a mão nas teclas".
Além dos estudos da irmã, as possibilidades musicais eram rarefeitas - lembrem-se que estávamos nos confins da Amazônia, na década de 30 do século passado. "Eu comecei a tocar o acordeon porque era o que havia. No Acre a única referência era a banda do Exército, que tocava marchas militares, aos domingos, na praça. Eu ganhei de Papai Noel uma sanfoninha de brinquedo. Meu irmão (Lysias Ênio) também ganhou uma. Só que ele pegou a dele e abriu para ver de onde saia o som. E eu saí tocando. Tocava 'Tatu Subiu no Pau', 'Ciranda Cirandinha'. Se impressionaram com aquilo e foram me dando acordeons melhores". Antes disso, Joãozinho brincava com flautas de bambu e batucava em panelas. Aos 11 anos, quando chegou ao Rio de Janeiro, já manejava um instrumento profissional, de 120 baixos, com o qual começou a tocar em festas da turma do colégio.
De acordeon em punho, mas cada vez mais interessado no piano ("O piano te dá a liberdade. Não é aquele trambolho pendurado no pescoço", compara), Donato compatibilizava o amor por Luiz Gonzaga ("Meu maior ídolo, sempre foi e sempre será") com as descobertas no campo do jazz e das big bands americanas, absorvidas no contato com as novas amizades cariocas. Entronizou-se no Sinatra-Farney Fan Club, núcleo proto-bossanovístico por onde passaram Johnny Alf, Paulo Moura, Dóris Monteiro e Nora Ney. Nessa época, virada dos anos 40 para os 50, abandonara os estudos (para horror do pai, major da Aeronaútica) e alternava a carreira de instrumentista profissional, na Rádio Guanabara, com uma incipiente boemia musical - formando os grupos Os Modernistas e, depois, os Namorados.
"Isso tudo foi antes da televisão..." lembra Donato. Em 1949, participa de sua primeira gravação. "O Altamiro Carrilho ia gravar seu primeiro 78 RPM. Nós eramos colegas, assistíamos os ensaios um do outro. Demos uma ensaiadinha e gravamos 'Brejeiro'. É bonito até hoje. Tinha também o César (Faria) - o pai do Paulinho da Viola - no violão". No começo da década de 50, já assinando como Donato & Seu Conjunto, mas sem deixar os Namorados, lançaria mais discos de 78 RPM; gravaria o primeiro álbum, "Chá Dançante", produzido por Tom Jobim, em 1956; e teria em "Minha Saudade" a primeira composição sua a ser gravada, por Luiz Bonfá.
Enquanto isso, sua reputação de inconformista (musicalmente e no comportamento) crescia no Rio. As noitadas que ele comandava na boate do Hotel Plaza, a partir de 1957, ficaram famosas. Mas a indisciplina de Donato e sua iconoclastia como músico - incorporando harmonias novas, dissonantes e síncopes que entortavam todos os gêneros, do baião ao samba - o tornaram um estranho no ninho, "Eu sempre gostei de música mais dissonante, mais exótica, sofisticada, sei lá como se qualifica. Aqui eu estava travado. Teve uma momento em que eu não conseguia mais nem dar canja em boate. Os gerentes diziam que minha música era anti-comercial. Mesmo depois do sucesso da bossa nova, o horizonte estava muito fechado", considera.
Foi quando transferiu-se para a América do Norte. Em 1959, viajou para o México acompanhando o amigo Nanai (ex-Namorados) e de lá partiu para Los Angeles (EUA). Em três anos, correu o circuito das orquestras de música latina, onde trocou o acordeon e o piano pelo trombone. "Tinha ido para tocar jazz, melhorar minha técnica. Cheguei lá e procurei o jazz e cadê? Não tinha. Lugares para tocar jazz eram um ou dois, com centenas de músicos querendo um espaço... Então cada um tocava em uma orquestra latina, pra trabalhar. Não faltava emprego. O que eu ia fazer? Fui tocar com eles. Quando em Roma... (risos)" A temporada foi proveitosa, pois Donato incluiu mais uma influência - a dos sons afro-caribenhos - à sua musicalidade. "Fui para melhorar e melhorei, mas não do jeito que eu esperava. Eu já levava uma simpatia pela música cubana, quando eu a encontrei pessoalmente (risos) foi sopa no mel. Toquei com Mongo Santamaria, Tito Puente...".
Nos anos 60, Donato viu a turma da bossa ganhar o mundo. Mas seu caminho era outro, sempre perseguindo suas revoluções pessoais. Gravou dois discos no Brasil ("Muito à Vontade" e "A Bossa Muito Moderna de João Donato & Seu Trio") que ajudaram a definir o samba-jazz. De volta aos EUA, onde ficaria entre 1963 e 1972, finalmente seria aceito pela elite jazzística. "Corri várias companhias com o acetato do 'Muito à Vontade', para ver se interessava a alguém. Ninguém queria meu disco, ninguém estava interessado naquele assunto - piano, baixo e bateria tocando coisas minhas, um brasileiro desconhecido. Até que fui à Pacific Jazz, por onde gravavam Chet Baker, Gerry Mulligan, Laurindo de Almeida. Lá houve empatia maior e o diretor da gravadora disse: 'Gostei do seu trabalho, mas vai depender dos outros músicos te aceitarem. Não dá para ir lançando seu disco assim direto, do nada. E por acaso vou me encontrar com Bud Shank amanhã. Se ele gostar..." E o Bud gostou, ele me aceitou e então gravei com ele meu primeiro disco nos EUA".
Nos EUA e Europa, acompanhou os amigos João Gilberto, Tom Jobim, Sergio Mendes e Astrud Gilberto, e os ídolos Dorival Caymmi e Stan Kenton, entre muitos outros. Da nova aventura americana, sobraram os hoje cult "Donato/Deodato" (unindo o piano do compositor aos arranjos de Eumir Deodato, em 1969) e "A Bad Donato" (registrado com feras da vanguarda do jazz ianque, em 1970). O reecontro com o Brasil, em 1973, se deu com o primeiro álbum no qual Donato assumia os vocais, "Quem É Quem". "Eu fazia os meus teminhas, como sempre fiz. Mas nada de pensar em letra. Música para mim era o que eu gostava de ouvir, jazz instrumental, raramente tem cantor. Quando voltei ao Brasil o Agostinho (dos Santos, produtor) falou: 'Cadê as letras? Sem letra ninguém canta'. Ai eu comecei a me preocupar com a canção propriamente dita. A gente pode fazer dezenas de temas em minutos, mas não quer dizer que são canções. Tem de ter uma bela letra e uma bela melodia, aí sim. Tem de ter uma certa capacidade de comunicação universal", acredita o compositor.
"Quando comecei a cantar, foi um certo drama para mim. Mas segui o exemplo de Tom Jobim, Vinicius, Nelson Cavaquinho. Cada um canta sua própria música com a voz que Deus lhe deu. Gente sem grande material vocal, mas com uma grande emoção. Foi um momento de mudança nos rumos da música, quando todo compositor passou a ser cantor também", diz.
A experiência de "Quem É Quem" se provou tão positiva que hoje Donato é um dos campeões absolutos em número de parceiros na história da MPB. "Comecei a fazer música com mais e mais gente. Um dos primeiros foi o Martinho da Vila. Aí vieram Gil, Caetano, Moraes Moreira, Abel Silva... até Baby Consuelo! Paulo Cesar Pinheiro, Chico Buarque, Cacaso, Marcos Valle, Ronaldo Bastos, Lô Borges, Aldir Blanc, João Bosco, Geraldo Carneiro e até o arisco João Gilberto estão entre as dezenas de figurões que já racharam canções com Donato, que prefere oferecer as melodias aos poetas a fazer o processo inverso. "É complicado botar música em letra. É mais fácil a música ficar passeando sozinha, tentando encontrar uma letra, deixar as palavras sairem da melodia".
As décadas de 70 e 80 exibem um Donato de ímpeto mais domado. Entre 1975 e 1996, grava apenas três LPs. Um contraste tremendo com a explosão de sua produção de lá para cá: nos últimos 11 anos, o compositor lançou nada menos que 15 álbuns (cinco deles no mesmo ano, 2002) e seu primeiro DVD, Donatural (2005). "Tenho tido momentos de silêncio também - já passei, por duas fases diferentes, dez anos sem gravar nada e já tive anos que lancei seis discos de uma vez. Não é plano, é coincidência, vou aceitando vários convites de vários lugares, já que não tenho contrato com uma gravadora só", diz o músico, que congrega gerações em seus discos mais recentes - dividindo espaço com nomes como Marisa Monte, Marcelo D2, Davi Moraes e Arnaldo Antunes, todos fãs confessos. Além de fazer discos também com veteranos como Paulo Moura e Emílio Santiago.
Desses anos todos, Donato afirma não ter extraído filosofia alguma, a não ser um amor incondicional pela música. E conta mais uma historinha: "Sempre me perguntam se eu tenho uma fórmula, um método para fazer música. E eu não consigo entender quem pensa que é assim que a coisa funciona. Certa vez, nos EUA, comprei um livro - por 99 cents, num supermercado 24h - chamado 'How to Write a Song'. Uma dúzia de grandes autores dando conselhos sobre composição. Gente de categoria, Hoagy Carmichael, Johnny Mercer... Li aquilo tudo e não gravei nada. Só lembro do conselho do Duke Ellington. Ele disse: 'Quando tiver uma idéia interessante, grave ou anote na hora. Pode ser um verso, uma melodia... Se deixar pra depois, você esquece e some. E aquela poderia ter sido a melhor música que você iria fazer na vida'".
Marco Antonio Barbosa - 03/04/2007 - extraído do Jornal Musical
Para mais informação, visite o site do João Donato
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Born in Rio Branco, state of Acre, he used to play music with bamboo small flutes and saucepans in his childhood. One day he got an eight bass accordion as a gift and, later on, a higher accordion. In 1945, he moved to Rio de Janeiro with his family. There, he started to play on his school's parties. On one of these parties, he met the band Namorados da Lua and started a friendship with Lúcio Alves, Nanai and Chicão. Four years later, he was already playing in the jam-sessions held at Dick Farney's and at the Sinatra-Farney Fan Club, to which he was a member. In 1951, he participated in the northeastern music program "Manhãs da Roça", broadcasted by Zé do Norte, on the Rádio Guanabara. At the same time, he started to study piano.
He started his professional career in 1949, as a member of the Altamiro Carrilho e Seu Regional's band, with which he recorded, in that year, a 78 rpm with the songs "Brejeiro" (Ernesto Nazareth) and "Feliz Aniversário" (Altamiro Carrilho - Ari Duarte). His participation on the record was omitted by the label. Thereafter, he replaced Chiquinho do Acordeon in the Fafá Lemos' band in a show at the Monte Carlo nightclub (RJ). Thereafter he performed in other nightclubs, such as Plaza, Drink, Sacha's and Au Bon Gourmet, among others.
In 1953, he formed his own band, Donato e Seu Conjunto, with which he launched, in that year, two 78 rpm records: "Tenderly" (J.Lawrence - W.Gross)/"Invitation" (Bronislau Kaper) and "Já Chegou a Hora” (Rubens Campos - Henricão)/"You Belong to Me" (Pee Wee King - Redd Stewart - Chilton Price).
He joined the band Os Namorados, with which he recorded three 78 rpm records: "Eu Quero um Samba" (Haroldo Barbosa - Janet de Almeida)/"Três Ave-Marias" (Hanibal Cruz), in 1953; "Palpite Infeliz" (Noel Rosa)/"Pagode em Xerém” (Sebastião Gomes - Alcebíades Barcelos), in 1953; and "Você Sorriu" (Valdemar Gomes - José Rosa)/"Não sou bobo" (Nanai - Ari Monteiro - L. Machado), in 1954. Still in 1954, he formed the Trio Donato, with which he launched a 78 rpm including the songs "Se Acaso Você Chegasse" (Lupicínio Rodrigues - Felisberto Martins) and "Há Muito Tempo Atrás” (J. Kern - I. Gershwin).
In 1956, he moved to São Paulo, where he was the pianist of the band Os Copacabanas and the Orquestra de Luís Cesar. In that same year, he launched a 78 rpm with the Donato e Seu Conjunto, including the musics "Farinhada" (Zé Dantas) and "Comigo É Assim" (Luiz Bittencourt - José Menezes). Yet in 1956, he recorded his first LP, "Chá Dançante", produced by Tom Jobim for the Odeon label. In the repertory, the songs "Comigo É Assim" (Luiz Bittencourt - Zé Menezes), "No Rancho Fundo" (Ary Barroso - Lamartine Babo), "Se Acaso Você Chegasse" ( Lupicínio Rodrigues - Felisberto Martins), "Carinhoso" (Pixinguinha - João de Barro), "Baião" (Luiz Gonzaga - Humberto Teixeira), "Peguei um Ita no Norte" (Dorival Caymmi), "Farinhada" (Zé Dantas) and "Baião da Garoa" (Luiz Gonzaga - Hervé Cordovil).
In 1958, he went back to Rio de Janeiro and started to dedicate himself exclusively to the piano. In that year, he recorded two tracks on the LP "Dance Conosco": "Minha Saudade", his first success, and "Mambinho", both with the partnership of João Gilberto. At that time, he joined the Orquestra do Maestro Copinha, that played at the Copacabana Palace (RJ).
In 1959, he went to Mexico with Nanai and Elizeth Cardoso. Thereafter, he moved to the United States, where he lived for three years. There, he played with Carl Tjader, Johnny Martinez, Tito Puente and Mongo Santa Maria. He made a tour in Europe with João Gilberto. In 1962, he came back to Brazil.
In 1963, he recorded the LP "Muito à Vontade", with Tião Neto (double bass) and Milton Banana (drums). The record was launched by Polydor, standing out his compositions "Sambou... Sambou" (with João Melo) and "Caminho de Casa". On that same year the LP "A Bossa Muito Moderna de João Donato e Seu Trio" was launched.
Soon he returned to the United States, where he lived for more than ten years. There, he recorded a LP with saxophonist Bud Shank and with guitar player Rosinha de Valença, in addition to the records "Piano of João Donato - The New Sound of Brazil", "A Bad Donato", which included the participation of double bass Ron Carter, and "Donato/Deodato", with arrangements by Eumir Deodato. He also performed with other artists, such as Astrud Gilberto, Caymmi, Tom Jobim, Eumir Deodato, Stan Kenton, Nelson Riddle, Herbie Mann and Wes Montgomery, among others. His musics "Amazonas", in the Chris Montez' recording, and "A Rã" and "Caranguejo", both recorded by Sérgio Mendes, gathered a great success with the North American audience.
In 1972, he returned to Brazil and in the following year the LP "Quem É Quem", was recorded and launched by Odeon. The innovation of such record was the inclusion to its repertory of music with lyrics sung by the composer himself, who had been, until then, an interpreter of instrumental music, and "Até Quem Sabe" (with his brother Lysias Ênio) and "Chorou, Chorou" (with Paulo César Pinheiro) are outstanding, among others.
In 1974, he was the musical director and participated in the show "Cantar", made by Gal Costa on the Teatro da Praia (RJ). The show was recorded, and his songs "Até Quem Sabe" and "A Rã" (with Caetano Veloso) were included in the repertory. In 1975, the LP "Lugar Comum", was recorded, launched by Phonogram. In 1986, the LP "Leilíadas" was launched.
In 1997, he recorded, with Eloir de Morais (drums), the CD "Café com Pão", for which he got two nominations for the Prêmio Sharp award: Best Record and Best Arranger. In that same year, he made the CD launch show at the Mistura Fina nightclub (RJ). Still in that year, he launched the CD "Coisas Tão Simples", by EMI/Odeon, and four unpublished songs of his authorship are outstanding: "Fonte de Saudade" (with Lysias Ênio), "Everyday" (with Norman Gimbel), "Summer of Tentation" (with Toshiro Ono) and "Doralinda" (with Cazuza). The record was launched in a show at the Mistura Fina nightclub (RJ). In 1998, he was once more at the Mistura Fina, with the show "Café com Pão", joined by Eloir de Morais (drums).
In 1999, he recorded the CD "Só Danço Samba", interpreting Tom Jobim's works, exclusively. Also in that year, the Lumiar Discos & Editora launched the "Songbook João Donato" (book and three CDs), with the participation of Caetano Veloso, Gal Costa, Djavan and Daniela Mercury, among other artists. The launch show was held at Bar do Tom (RJ), with Bororó (acoustic bass), Victor Bertrami (drums), Ricardo Pontes (sax and flute), Jessé Sadoc (trumpet) and the composer himself at the piano, in addition to the participation of Nana Caymmi, Marcos Valle, Os Cariocas and Angela Rô Rô, among other performers.
In 2000, he was in the project "Rio Sesc Instrumental", at the Sesc Copacabana (RJ), joined by Jessé Sadoc (trumpet), Ricardo Pontes (saxes and flute), Nei Conceição (bass) and Victor Bertrami (drums). On that same year he performed at the Copacabana Beach, at the closing show of the project "Rio-Bossa Nova 2000". Also in 2000, he recorded the CD "Amazonas", joined by Cláudio Slon (drums) and Jorge Helder (acoustic bass), launched by the Elephant Records of Vartan Tonoian (Denver, Colorado, EUA). The record included in the repertory Donato's own compositions, standing out "Glass Beads" and "Coisas Distantes", both with the partnership of João Gilberto. For the record launch, he performed at the Memorial da América Latina, with the Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo (SP), and at the Mistura Fina (RJ), with double bass Luiz Alves (bass) and Cláudio Slon (drums), thereafter making a tour to Europe, Japan, Australia, New Zealand and the United States, and a mini season at the Blue Note in New York is outstanding. Still in 2000, he was awarded the Prêmio Shell de Música for the whole of his work and participated in the Free Jazz Festival (RJ), reaching a huge success towards the public and the reviews.
On February 2001 he married Ivone Belém, a journalist from the state of Rio Grande do Sul. On July of that year, in the Amazon Forest, and with the partnership of also piano player Everardo de Castro, he composed "Amazonas: um Poema Sinfônico", a theme for piano and orchestra, sponsored by the state of Amazonas government and script by Ricardo Cravo Albin. On September of the same year, he presented the symphonic piece, with the Orquestra Amazonas Filarmônica, arranged by maestro Laércio de Freitas, conducted by maestro Luiz Fernando Malheiro and narrated by Ricardo Cravo Albin, at the Teatro Amazonas, in Manaus.
In 2002, he launched the CDs "Brazilian Time", "Remando na Raia" and "Ê Lalá Lay-Ê" (DeckDisc), and on this latest, partnerships with his brother Lysias Ênio were recorded, exclusively. In that year he also performed with the Orquestra Jazz Sinfônica, at the Sala São Paulo. The concert was recorded live and originated the CD "The Frog", launched by the Elephant Records label. Still in 2002, he went to Japan, where he made 10 presentations with the singer Joyce.
In 2003, he was awarded the Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte – Association of Art Critics of the State of São Paulo). He made shows in Cuba, Russia and Japan, and in many Brazilian cities, launching the CD "Managarroba". Marisa Monte, Marcelo D2, Joyce and João Bosco joined the disc. Yet in that year, he recorded with Emílio Santiago, the CD "Emílio Santiago Encontra João Donato" and, with Wanda Sá, the CD "Wanda Sá com João Donato".
In 2004, he was awarded the Prêmio Tim for the record "Emílio Santiago Encontra João Donato". Both artists made a show at the Bar do Tom (RJ), named "Emílio Santiago & João Donato". Later on that year he went to Spain, recorded a Bossa Nova CD for the Russian market and, in Cuba, recorded the CD "Sexto Sentido". Still in 2004, he assumed the musical production of CD "Tita e Edson" (Lumiar Discos). And, thereafter, with Bud Shank, the CD "One evening with Bud and Donato" was recorded, soon after his participation in the Bud Shank show at the Chivas Jazz Festival (RJ). And still in that year he performed with Johnny Alf, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Wanda Sá, Leny Andrade, Pery Ribeiro, Durval Ferreira, Eliane Elias, Marcos Valle, Os Cariocas and Bossacucanova, in the show "Bossa Nova in Concert", held at the Canecão (RJ). The show was presented by Miele and had a support band formed by Durval Ferreira (guitar), Adriano Giffoni (double bass), Marcio Bahia (drums), Fernando Merlino (keyboards), Ricardo Pontes (sax and flute) and Jessé Sadoc (trumpet), with conception and artistic direction of Solange Kafuri, musical direction of Roberto Menescal, research and texts by Heloisa Tapajós, setting by Ney Madeira and Lídia Kosovski, and projections by Sílvio Braga. On November 2004 he received from the hands of President Lula and the minister of Culture Gilberto Gil, the Medalha da Ordem do Mérito Cultural, the highest merit badge in the country.
In 2005, he recorded and launched his first DVD, "Donatural - João Donato ao Vivo", and invited to join him Leila Pinheiro, Joyce, Emílio Santiago, Angela Rô Rô and Gilberto Gil, with a support band formed by Robertinho Silva (drums), Luiz Alves (acoustic and electric bass), Cidinho (percussion), Jessé Sadoc (trumpet and flugelhorn), Ricardo Pontes (sax and flute) and Donatinho (keyboards). In the same year, he participated in the second presentation of the show "Bossa Nova in Concert", at the Parque dos Patins (RJ). And also in 2005, he made a launch show for the DVD "Donatural" at the Teatro Rival (RJ), with the participation of Leila Pinheiro and Marcelinho Da Lua.
On April 2006 he was honored by the government of the state of Acre, that baptized with Donato's name the modern arts and communication center, Usina de Artes e Comunicação João Donato, a deactivated former Brazilian nut plant. In the occasion he performed with his partner Gilberto Gil. On June 2006, with Paulo Moura, he launched the CD "Dois Panos para Manga", conceived on a meeting at TV director Mario Manga's home. By that time, a record with some of the themes appreciated by the Sinatra-Farney Fan Club goers in the 50's was suggested to the two artists. The repertory included his song "Minha Saudade" (with João Gilberto), further to "On a Slow Boat to China" (Frank Loesser), "Swanee" (George and Ira Gershwin), "That Old Black Magic" (Harold Arlen - Johnny Mercer), "Tenderly" (Walter Gross - Jack Lawrence), "A Saudade Mata a Gente" (Antonio Almeida - João de Barro), "Copacabana" (Alberto Ribeiro - João de Barro), in addition to "Pixinguinha no Arpoador" and "Sopapo", two unpublished compositions signed by the two artists. On November 2006, he made historic shows: in Rio de Janeiro, at the Mistura Fina, and in São Paulo, at the Sesc Pinheiros, where he met again the 80-year old alto-saxophonist, Bud Shank. At the meeting again, after 40 years without presenting a show, a DVD documentary and a CD were recorded.
In January 2007, João Donato went to Australia, invited by Marcos Valle, for presentations with Wanda Sá and Roberto Menescal, in an outdoors festival, with a public of 10,000 people. In March 2007, he released two important CDs, considered by the critics of the brazillian newspaper "Folha de São Paulo" as "great CDs". The first one, "Uma Tarde com Bud Shank e João Donato" (Biscoito Fino Records), produced by himself, registers a meeting of Donato with his friend Bud Shank, an American saxophone player, who Donato met in 1965, when he lived in the USA, and who he met again in 2004, in Brazil, when he took a chance to record this CD.
"O Piano de João Donato" (Deck Disk Records), is Donato's first solo album, where he interprets authorial compositions and covers of foreign standards. "The work is a signature of a musical author and a generous creator, which takes us further in the art of enjoying music", wrote the brazillian newspaper "O Globo". The release concerts of the solo piano CD, produced by MPB Marketing, were sold out for three days at Ibirapuera auditorium, in São Paulo, where Donato was applauded by his performances with the musicians Leny Andrade and Filó Machado, who did special appearances in the concerts. In April of 2007 he did a small tour in the US, performing at jazz clubs in Cleveland, Chicago and New York. The critics of Chicago tribune wrote: "The melodies of Jobim are more famous, even the most occasional listeners are familiar with "A Garota de Ipanema", "Desafinado" e "Dindi." But Donato's compositions are elaborated with a similar mixture of the best arrangement skills and a remarkable economy, and the composer translates brazillian rhythm, romance and culture in few well chosen notes".
In the same tour, The New York Times published: "Donato is one of the great composers of bossa nova of the generation of the end of the 1950's and probably the musician most influenced by American jazz; his interpretations today are nostalgic and sometimes anarchically funny". The Time New York magazine announced: "The pianist João Donato has so much to do with the elaboration of the music that came to be the bossa nova as the other guitar player João, old partner of Donato. The difference, which you will listen to tonight, is that Donato kept his ears tuned with the jazz that happened on the north of the Brazilian border".
The emblematic magazine of jazz, edited in NY, Wax Poetics, dedicated 12 pages to Donato's life and work of its edition of April/May. "João Donato deserves a place among the Brazillian music legends, alongside Antônio Carlos Jobim, João Gilberto, Dorival Caymmi, Ary Barroso and so many others, although his erratic career and the experiments with several music styles make a challenge to classify him", says the writer Aleen Thayer, author of the article. In April 2007 he did for the first time, a concert with his son Donatinho (keyboard player and DJ), at Oi Futuro Multiplicidades, which used to be the Museum of the Telephone. From this concert a CD was created, with Donato's songs mixed and sampled by Donatinho.
The long list of performers of his songs include artists such as Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tim Maia, Leny Andrade, Walter Wanderley, Nara Leão, Roberto Menescal, Luís Carlos Vinhas, Milton Banana, Luiz Eça, Tito Madi, Maysa, Dóris Monteiro, Raul de Souza, Tamba Trio, Victor Assis Brasil, Mahogani, Joyce, Bebel Gilberto, Os Cariocas, Simone, Fafá de Belém, Miúcha, Fagner, Leila Pinheiro, Baden Powell, Ithamara Koorax, Lisa Ono, Zizi Possi, Adriana Calcanhotto, Angela Rô Rô and Nana Caymmi and Leo Gandelman, among others.
27 novembro 2008
Canhoto da Paraíba - O Violão Brasileiro Tocado Pelo Avesso (1977) + Fantasia Nordestina Vol. 2 (1990)
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+ 5 faixas bônus / + 5 bonus tracks
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+ 7 faixas bônus / + 7 bonus tracks
Este disco foi um presente do grande amigo Marcos Maia / This record was a gift from my great friend Marcos Maia
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Se a escola de violões é a melhor do mundo, Francisco Soares de Araújo, o Canhoto da Paraíba, é um dos mais surpreendentes expoentes. Seus choros têm um sotaque nordestino delicioso. Seu estilo de tocar é único. Como era obrigado a compartilhar o instrumento com os irmãos, não podia inverter as cordas, o que o fez tocar em um instrumento afinado para destros. O pai não conseguia ensinar-lhe: "Ih, meu filho, tem jeito não. Pra lhe ensinar tem que botá de cabeça pra baixo ou diante de um espelho". Teve que aprender tudo sozinho.
Em 1959, uma legendária excursão de músicos nordestinos viajou dias de jipe com destino à casa de Jacob do Bandolim no bairro de Jacarepaguá no Rio de Janeiro, onde aconteciam os maiores saraus da época. Reza a lenda, que no primeiro sarau em que se apresentaram para a nata dos músicos brasileiros, Radamés Ganttali ficou tão impressinado que gritou um palavrão e jogou seu copo de cerveja no teto. Para recordar o momento, Jacob nunca limpou a mancha no teto. Considerando o temperamento explosivo de Radamés e o virtuosimo de Canhoto, a história até é factível, pena que parece que é falsa. Histórias saborosas assim todo mundo deveria acreditar. O fato é que esta reunião foi tão impactante, que um moleque que a assistiu, filho de um dos músicos participantes, resolveu por causa disso aprender música. Hoje ele é conhecido como Paulinho da Viola.
Estabelecido em Recife, desde 1958, somente dez anos depois, Canhoto da Paraíba conseguiu gravar seu segundo disco, Único Amor pela finada gravadora Rozenblit. Este disco é que está sendo agora relançado em CD, com apoio de João Florentino, dono da rede de lojas Aky Discos e do selo Polysom. Entre tantos ótimos violonistas na cidade na época, Canhoto surpreendeu na escolha de quem iria acompanhá-lo. Escolheu o jovem Henrique Annes, de 22 anos e formação clássica. Francisco Soares sabia das coisas. Henrique veio a se tornar um dos maiores violonistas brasileiros, e fez parte de alguns dos mais interessantes projetos instrumentais, como a Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco (que tem um maravilhoso disco relançado em CD) e lidera o grupo Oficina de Cordas. Se achou esta dupla pouco, é que ainda não sabe quem foi o produtor musical do disco. Nada menos do que o maestro Nelson Ferreira, o maior maestro/orquestrador de frevos que já existiu.
Canhoto veio a gravar apenas mais dois discos de carreira, ambos antológicos. Em 77, Paulinho da Viola produziu para a Discos Marcus Pereira o "Com mais de Mil". Esse disco já foi lançado em CD, mas os babacas da EMI trataram de tirar de catálogo quando compraram o acervo da Copacabana. Pela finada Caju Music gravou em 1993, seu último disco, "Pisando em Brasa", com as participações especiais de Rafael Rabello e Paulinho da Viola. Ainda pode-se encontrar este disco em CD pela Kuarup. Recentemente saiu em CD sua entrevista para o programa Ensaio da TV Cultura. Em 1998, Canhoto sofre uma isquemia cerebral e fica com o lado esquerdo do corpo paralizado, impossibilitando-o de tocar.
Se você não tá levando fé no que estou escrevendo -- Ora, como um violonista que quase ninguém ouviu falar pode ser tão bom? -- vou transcrever aqui a opinião de duas pessoas que entendem muito mais de música do que eu. Uma é o Paulinho da Viola, que não só produziu seu primeiro disco, como rodou o país com Canhoto pelo Projeto Pixinguinha.
Paulinho dizia que era comum Chico Soares roubar o show, sendo muito mais aplaudido do que ele. Paulinho também gravou em seu primeiro disco de 1971 o belíssimo choro "Abraçando Chico Soares", que fez no estilo de composição do amigo. Veja o que Paulinho diz sobre ele:
"Eu não queria participar daquelas rodas (de choro) como músico. Quando vi o Canhoto tocar fiquei tão entusiasmado que me toquei. Era tão sublime, tão tecnicamente perfeito. Acho que o Canhoto me influenciou a tocar, mais do que meu pai e Jacob (do Bandolim)."
Paulinho da Viola
Quer mais? Então veja este trecho de entrevista de um dos mais perfeccionistas músicos brasileiros, Jacob do Bandolim. Ele está mostrando uma gravação e falando de 1959, quando recebeu a excursão de músicos nordestinos em sua casa. Veja que ele se refere a Canhoto por seu apelido de "Sacristão", que ganhou quando criança como assistente do padre de sua cidade. Fala aí, Jacob:
"... O problema aqui nesta gravação do Chico Soares reside apenas em que vocês pra executarem estas músicas gravadas, vocês vão virar canhotos de uma hora para outra. E só assim, porque o homem tem o diabo no corpo. ... Nós vivíamos a correr de um lado para outro, a tocar para uns, para outros, e todos queriam conhecer o Sacristão, que aliás era o vedete do grupo. E observe bem que você não vai encontrar qualquer erro da parte dele. Quero afirmar a você, sob palavra, que durante os 15 dias que esse homem permaneceu aqui, em nossa casa em Jacarepaguá, este homem repetiu estas músicas várias vezes, dezenas e dezenas de vezes, em vários lugares, nas condições mais absurdas, sentado confortavelmente ou não, num ambiente agradável ou não ... , nas condições mais absurdas. De manhã cedo, às 6h da manhã, ele às vezes me acordava tocando violão. Adormecia tocando violão. Dentro de uma simplicidade tremenda sem errar nem uma nota! Eu nunca vi Sacristão errar uma nota! ... o homem tocava mesmo, não era brincadeira. Os outros tinham suas falhas, suas emoções, suas emotividades, mas o Chico Soares, não. Tocava rindo na minha cara, com um sorriso muito ingênuo de quem não estava fazendo nada de mais. Um artista enterrado lá em Recife ... é digno de toda nossa admiração, de todo nosso respeito, porque ele encarna nesta figura, uma porção de brasileiros que vivem enterrados por estes rincões afora, verdadeiros valores completamente no ostracismo ..."
Jacob do Bandolim
E viva Canhoto da Paraíba!
Paulo Eduardo Neves - extraído do site Agenda do Samba & Choro
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Coming from a family of musicians, Canhoto da Paraíba learned to play the violão (acoustic guitar) when he was very young. As he is left-handed (canhoto) and there was only one instrument to be shared by he and his brothers, he learned to play in an inverted position, stunning observers with his prodigious soloing technique in such an unfavorable setup. Throughout his career, he not only participated in hundreds of recordings and radio performances, accompanying the stars of song, but he also was a recognized master on his own, both as an instrumentalist and composer. His most successful choros, "Com Mais de Mil" and "Visitando o Recife," are of the genre's highest level, being some of the most representative of the choro Pernambucano style (the style developed in Pernambuco that presents individualizing characteristics in relation to the Carioca choro).
The development of the choro genre in the Northeast was similar to the Carioca process, where several radio outings kept regionais (small accompanying ensembles). The difference is that in Rio the regionais were led by flutists or mandolinists, while in the Northeast they had violonistas (acoustic guitar players) as leaders; Canhoto da Paraíba was one of these.
In 1953, he signed with Rádio Tabajara in João Pessoa PB, staying there for five years. There, he organized his first regional. In 1958, he returned to Recife PE, and was hired by Rádio Jornal do Comércio, being featured in the show Quando os Violões se Encontram, in which Miro José (who introduced the seven-string violão in Pernambuco), Tozinho, Wilson Sandes, Ernani Reis, Romualdo, Ceça, Zé do Carmo, and others also used to perform.
In that period, he performed regularly with masters of choro, like mandolinist Rossini Ferreira, accordionist Sivuca, and mandolinist Luperce Miranda. In October 1959, together with João Dias, Dona Ceça, Zé do Carmo, and Rossini Ferreira, da Paraíba went to Rio de Janeiro being praised by such icons as Pixinguinha, Radamés Gnattali, Jacob do Bandolim, and Paulinho da Viola, who paid homage to him with the choro "Abraçando o Chico Soares" (1971) and with the production of the LP Canhoto da Paraíba: Com Mais de Mil (or O Violão Brasileiro Tocado Pelo Avesso) (Marcus Pereira, 1977). In 1993, he recorded the CD Pisando em Brasa (Caju Music).
Alvaro Neder - extracted from All Music Guide
17 novembro 2008
Lusco Fusco - Lusco Fusco (2008)
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Nascido da união dos músicos e amigos de longa data Luiz Gabriel Lopes e Emerson Fonseca, o duo Lusco Fusco surge em 2005 na cidade de Entre Rios de Minas, com a intenção de inovar a linguagem da música instrumental, somando influências de fronteira, pertencentes à zona de indistinção entre os gêneros. Como na ambigüidade presente no fenômeno natural que dá nome ao duo, em que noite e dia se confundem em luminosidade, a idéia é mesclar elementos que vão desde a tradição da viola caipira e a sonoridade rock´n´roll até a música erudita e o jazz.
Assim, o livre transitar por idéias e estilos é característica marcante do duo, em que o resultado sonoro buscado é sempre algo que vem implodir rótulos e limites para a música. De maneira fluente, quase que com a simplicidade dos tocadores de violão do interior, as músicas acontecem como numa conversa, trazendo histórias e sonoridades específicas a cada momento e cada tema. Como se pode perceber nos títulos, cada canção tem sua simbologia, seus porquês; traz consigo um punhado de memórias e causos que estiveram presentes no processo de composição e arranjo, em que personagens, lugares e sensações se fazem presentes. Há, inclusive, a preocupação em situar o espectador nesse universo, através de pequenas explicações e comentários antes das músicas.
Abrir janelas, deixar que os sons aconteçam no tempo, livremente: Lusco Fusco é uma caixa de imaginação sonora. Convivência e experimentação conjunta, intimidade, entrosamento e criatividade são características marcantes do duo, que faz a música soar de maneira fluida e luminosa.
Para mais informação, visite o MySpace do Lusco Fusco
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The duo Lusco Fusco started in 2005, when friends Luiz Gabriel Lopes and Emerson Fonseca got together, in the city of Entre Rios in Minas Gerais, with the intention to innovate the instrumental music language. As in the ambiguity in the natural phenomenon that names the duo, where night and day get mixed in luminosity, the idea is to mix elements from the tradition of the viola caipira to rock, classical music and jazz, making the free transit between ideas and styles a strong characteristic on Lusco Fusco's music.
For more info, visit Lusco Fusco at MySpace
04 novembro 2008
Index - Index (1999)
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Um álbum clássico certamente depende de bons músicos no aspecto técnico, isso o Index tem. Certamente depende de boas composições e arranjos, e isso o Index também tem. Mas isso somente não garante nada, afinal são inúmeros os álbuns com essas boas características. É preciso mais. É preciso algo mágico, que não se pode explicar com palavras, algo que simplesmente acontece e aqui aconteceu.
Ouvir o álbum homônimo da banda é uma viagem no sentido literal da palavra. Você vai voar, as atmosferas barrocas irão te conduzir a alguns lugares e paisagens do passado e você será encaminhado a lembranças e sensações das quais já havia se esquecido. Poucos são os discos capazes disso.
Os motivos estão em cada nota, no andamento perfeito e calculado, na perfeita interação de teclados analógicos conduzidos por Eliane Pisetta e as guitarras e violões de Jones Júnior. Algo de divino aconteceu aqui. Ser músico não é apenas tocar um instrumento, mas tocar com o instrumento.
Nesses tempos em que o progressivo parece ter se esquecido do valor de uma boa melodia, para valorizar experimentalismos sem sentido, valorizar uma técnica pasteurizada e fundir elementos à exaustão dos ouvintes para pura auto satisfação, para dizer que foi pioneiro.
Será pioneirismo copiar e re-copiar as figuras da recente vanguarda? Qual a diferença entre espelhar-se em movimentos de quinhentos ou de cinquenta anos? Certamente não produz nada de novo da mesma maneira. O importante é buscar referências com as quais se possa emocionar e emocionar os ouvintes, tão carentes dessas experiências. E isso o Index conseguiu já em seu disco de estréia e que, ao menos nesse quesito, dificilmente será superado.
Dizer que o Index é uma das melhores bandas da cena progressiva brasileira é chover no molhado. Difícil é tentar traduzir em palavras as intervenções dos teclados, das guitarras tristes, bem como da seção rítmica e harmônica e de toda a aura que envolve cada tema. Um álbum top do prog-rock Brasileiro.
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First album of Brazilian band Index being mainly a reincarnation of Quaterna Réquiem is a full instrumental one as mentioned already in their biography. The music on here is dominated by (female!) keyboard player Eliane Pisetta and blends perfectly elements of Camel and their previous band. But as well guitarist Jones Júnior, who he played on "Velha Gravura", Quaterna's first album is doing a great job here, especially in "Serenata" on acoustic guitar. Really hard to name any outstanding track, since the whole album is just fantastic. All compositions have perfect playing times between 7 and 10 minutes, are very versatile and intricate never becoming tedious at any moment. Just as an example "Ciclos das Marés" brings in a slight baroque touch by introducing a wonderful string arrangement followed by classical guitar before the full band sets in and Júnior plays a great solo on electric guitar. Despite some similarities (only in style) to mentioned band they created definitely their very own sound and I've to say I don't miss vocals at any part of the album. I listened to it already quite often and I find it with each repeated listen even more fascinating. Thus if you love instrumental music and you like to get value for money you should go to buy this one immediately.
27 outubro 2008
Camerata Carioca & Radamés Gnattali - Tributo a Jacob do Bandolim (1979)
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Grupo instrumental originalmente formado por Joel do Nascimento (bandolim), Raphael Rabello (violão de sete cordas), Luciana Rabello (cavaquinho), Maurício Carrilho (violão), Celsinho Silva (pandeiros) e Luiz Otávio Braga (violão), em 1979, com o objetivo de executar a suíte "Retratos" de Radamés Gnattali. Nesse mesmo ano, Hermínio Bello de Carvalho, que havia presenciado uma apresentação informal dos instrumentistas por ocasião do aniversário do maestro, idealizou e dirigiu o espetáculo "Tributo a Jacob do Bandolim", em homenagem aos dez anos de falecimento do bandolinista, com a participação de Radamés Gnattali e do grupo de músicos que batizou como Camerata Carioca. O show gerou disco homônimo, lançado nesse mesmo ano.
O conjunto teve, em outras formações, a participação de João Pedro Borges (violão de sete cordas), Henrique Cazes (cavaquinho), Beto Cazes (pandeiros) e Edgar Gonçalves (sopros). Interpretando um repertório de obras das áreas erudita e popular, lançou, em 1982, o LP "Vivaldi & Pixinguinha". Nesse mesmo ano, atuou, ao lado de Nara Leão, no show "Nasci para bailar".
Em 1983, gravou o LP "Tocar", contendo obras de Astor Piazzolla, Wagner Tiso, Pixinguinha, Radamés Gnattali e Anacleto de Medeiros, entre outros. Também nesse ano, participou, ao lado da Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro e do Duo Assad, do concerto realizado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em homenagem a Radamés Gnattali, por ocasião da entrega ao maestro do Prêmio Shell na categoria Música Erudita. Ainda em 1983, apresentou, ao lado de Radamés Gnattali e Elizeth Cardoso, "Uma rosa para Pixinguinha", recital que gerou LP homônimo.
No ano seguinte, gravou o LP "Rapsódia Brasileira, contendo obras de Catulo da Paixão Cearense, Hekel Tavares, Jayme Ovalle e Chico Buarque, entre outros.
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Camerata Carioca was a group formed and led by the choro mandolinist Joel Nascimento, or Joel do Bandolim. In 1978, Joel do Bandolim asked Radamés Gnattali to transcribe Gnattali's suite, "Retratos," for Joel's choro regional (small ensemble). The transcription reshaped the group into a chamber format, and they adopted the denomination Camerata Carioca (given by Hermínio Bello De Carvalho), which opened doors for a new direction of choro where erudite elements were introduced. The band was formed after The Os Carioquinhas, with Raphael Rabello (seven-string violão), Maurício Carrilho (violão), Luciana Rabello (cavaquinho), and Celsinho (pandeiro). The solo violão of Luiz Otávio Braga was added to this formation. Before the group's opening, Luiz Otávio traveled to Japan with Paulo Moura and was replaced by João Pedro Borges. In 1979, the group, with Joel and Gnattali, performed the tribute show Tributo a Jacob do Bandolim, in Curitiba PR, Rio de Janeiro RJ, and Brasília DF, which was recorded and released through WEA. The group followed a transcription written by Gnattali of Vivaldi's Concerto grosso Op. 3 #11 in D minor and Concerto No. 5: Seresteiro for piano and orchestra, performed by the Camerata at Rio's Teatro Municipal. An increase in their rehearsal routine demanded the departure of Rafael and Luciana Rabello, who were replaced by Luiz Otávio and Henrique Cazes. The percussion was delivered to Beto Cazes. The show Vivaldi and Pixinguinha, also with Gnattali, opened at the Teatro Guaíra (Curitiba PR), recorded and released by Funarte (1980). The Camerata also worked with important singers like Elizeth Cardoso, soprano Maria Lúcia Godoy, and Nara Leão, opening the show Nasci Para Bailar with the latter in late 1982. In the same year, the Camerata shared instrumental tracks with Paulo Moura in Nara Leão's Meu Samba Encabulado. In May 1983, they opened the successful show Uma Rosa Para Pixinguinha with Elizeth Cardoso and Radamés Gnattali, which was recorded live, released in LP format, and reissued on CD. Tocar came out in 1983 by Polygram, also with the participation of Gnattali. In August 1983, the group toured the Northeast in the Pixinguinha Project with great success. In the same month, they received the Shell prize at the Teatro Municipal, where they performed again with Gnattali, along with the Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal. In May 1986, Camerata Carioca dissolved after several international tours.
Alvaro Neder - extracted from All Music Guide
06 outubro 2008
Meirelles e os Copa 5 - O Som (1964)
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No restaurante semi-vazio no Centro do Rio de Janeiro, a happy hour no meio da semana faz pouco para merecer este nome. Na varanda meio escurecida pela estética do apagão, fregueses preferem o lado oposto ao destinado aos músicos. Azar o deles. Estão perdendo uma das hoje raras chances de ouvir J. T. Meirelles, revezando-se no sax e na flauta com Osmar Milito nos teclados. Na década de 60, pequenas multidões se acotovelavam para, nas boates do Beco das Garrafas, ouvir um dos músicos mais brilhantes de sua geração. Se mudou o mundo ou a música, nem vale a pena perguntar. Meirelles, este sim, mudou – e muito – em quase 40 anos: brilhou intensamente na cena do samba-jazz que ajudou a inventar, retirou-se nos arranjos de encomenda quando achou que não tinha lugar para um trabalho autoral e, finalmente, vendeu seus instrumentos e deixou a música de lado por cinco anos.
"Parei de tocar porque perdi a fé na música. Quando um saxofonista como o Zé Bodega parou eu não entendia e nem me conformava. Mas hoje eu compreendo ele, fui contaminado por aquele vírus, não sentia nada quando tocava", diz Meirelles, 60 anos, sem acusar ponta de mágoa e com a veemência que marca suas frases curtas e por vezes hesitantes por conta de uma leve gagueira. "De uns dois anos para cá, achei que ainda poderia ter uma vida útil de, sei lá, mais uns cinco anos. Outro dia, lá na Modern Sound, pintou na cabeça 'Lament', que o Miles Davis emenda com o 'Meaning of the blues' no 'Miles Ahead'. Senti que todo mundo ficou em silêncio. Segui a música como no disco, não improvisei nada e, quando terminei, foi como se alguma coisa tivesse se rompido. Por isso, vale a pena".
Na Modern Sound, som e público são diferentes do restaurante. Marcando ponto todas as tardes de sábado no bistrô que funciona dentro da tradicional loja de discos de Copacabana, Meirelles divide com Délia Fischer (piano) e José Luiz Maia (baixo) sets de standards do jazz e da bossa nova e cumpre mais uma etapa de sua lenta, sólida e bem cuidada volta à música na primeira pessoa, fazendo jus a seu talento. Mês que vem, a gravadora Dubas relança um dos mais cobiçados discos do samba jazz, "O som" de Meirelles e os Copa 5 – que jamais saiu em CD e sua versão de vinil custa exorbitantes US$ 350 no site www.recordresearcher.com. Ali está o fino de suas composições e arranjos – onipresentes no que de melhor se fez na época, como em suas orquestrações para o "Samba Esquema Novo" que lançou Jorge Ben – e um norte para o futuro: "Agora, com o que fiz no passado de volta, faz sentido pensar para frente, num disco com coisas novas e também num livro em que vou contar minha vida e minha experiência", diz ele, que também pretende manter atualizada a homepage muito bem produzida por sua filha e que inclui dados de referências, fotos de época e até partituras.
"O Meirelles é parte de uma geração de músicos sensacionais. O chamado samba-jazz, que mistura gafieira, big band, orquestra de danças e os trios, foi um produto paralelo da bossa nova onde se plasmou a música instrumental brasileira adulta", avalia o jornalista Ruy Castro, que depois da abrangente história da bossa nova de "Chega de Saudade" está reunindo seus escritos sobre o gênero no livro que vai se chamar "A Onda que se Ergueu no Mar". "Ele e outros músicos de seu calibre foram vítimas da jovem guarda, que como todo fenômeno, altera os rumos do mercado do disco. É que nem o sertanejo há alguns anos: o que não vendia muito a gravadora não queria. O jazz americano também sofreu nessa época mas o motivo era mais nobre, os Beatles. Aqui foi por conta do Roberto Carlos mesmo".
Quem nasceu para as madrugadas do Bottle's não podia mesmo ficar à vontade em jovens tardes de domingo. Convivendo com música desde sempre, o adolescente João Meirelles era filho do primeiro flautista da orquestra do Teatro Municipal do Rio, tocava clarinete na banda da escola e até hoje se emociona quando lembra a primeira vez que ouviu Charlie Parker: "Eu tinha 15 anos, parei numa loja na Galeria Cruzeiro. O disco era 'Charlie Parker with Strings'. Fiquei em estado de choque porque aquilo era muito novo mas ao mesmo tempo muito natural para mim, sei lá porque", conta ele, fazendo o paralelo com outra influência fundamental. "Com João Donato foi a mesma coisa: era aquilo que eu queria mesmo sem saber direito como. Mas nunca imitei nenhum dos dois, foi uma influência mais sutil".
Mas a tal da influência do jazz não tinha se manifestado nos primeiros tempos de carreira, mesmo lado a lado com João Donato. Pilotando um trombone de vara, Donato era companheiro do iniciante Meirelles na banda que animava escusos bailes de carnaval na falecida Boate Pigalle, no Posto Seis. "Era coisa para homem casado dar escapulidas à tarde. Eles usavam um uniforme listrado, vermelho e branco, e num ano eu entrei de carona como músico", conta o jornalista João Luiz Albuquerque, que segundo Meirelles foi personagem de sua "puberdade musical". "O Meirelles estava muito à frente de todo mundo. Ele ia lá para casa ouvir discos de jazz e ficava improvisando em cima do guitarrista Barney Kessel. E eu gravava tudo num gravador daqueles de rolo. Acho que ainda hoje ele está muito à frente pela capacidade de ouvir e entender estilos diferentes".
A síntese de tantas influências resultou em alguns dos principais standards do samba jazz, como "Quintessência", "Aboio" e "Solo" e também a participação destacada em vários clássicos da época como "Edison Machado É Samba Novo" – disco do genial baterista da bossa nova com arranjos de Moacir Santos que traz um dream team do gênero – "Os gatos" e "Aquele som dos gatos". Não menos estelar é o Copa Cinco: além de seu líder, o grupo tinha Waltel Branco (guitarra), Roberto Menescal (violão), Eumir Deodato (piano), Manoel Gusmão (baixo) e Edison Machado. O trabalho-solo de Meirelles, com o Copa Cinco, incluiu ainda "O Novo Som", e também o esfuziante repertório de jazz latino de "Tropical" (com a formação batizada como Copa 7 e Meirelles em altíssimos vôos nas flautas) além dos álbuns "João & His Bossa Kings", "The Gimmicks of Sweden", "Brazilian Beat" e "Brazilian Explosion". Depois foram temporadas no México e na Europa, 11 anos como maestro e arranjador da EMI-Odeon, temporadas em casas noturnas, shows com estrelas da MPB. E o silêncio.
"Quando me disseram que ele era o Meirelles, eu quase caí para trás", conta Acchile Barbieri, italiano, 37 anos, há dez no Brasil por conta de sua paixão pela bossa nova. Aqui casou, vive e pretende escrever um livro a partir de uma obsessão tão apaixonada quanto de utilidade pública: a de estabelecer discografias detalhadas do gênero. O encontro aconteceu nas tardes da Pedro Lessa, ruazinha ao lado da Biblioteca Nacional que concentra colecionadores de discos raros da bossa nova em camelôs sofisticados que são freqüentados por muitos estrangeiros em busca de vinis e CDs que não se encontra com facilidade nem aqui nem lá fora. Pelo menos entre os cultores do gênero, o saxofonista voltava a ficar em evidência em 1999 depois de ter participado do Songbook de João Donato dividindo a gravação de "Bananeira" com Ed Motta, que o convidou para o disco.
Da admiração de fãs como Acchile, nasceu amizade e um comovente mutirão afetivo para que o músico voltasse à ativa. Estes admiradores, que se reuniam religiosamente às quartas-feiras num bar do centro da cidade para ouvir gravações raras, compraram um novo sax para Meirelles, botaram em circulação cópias de alguns de seus discos e até o ajudaram a organizar o repertório – muitas de suas músicas sequer eram registradas em seu nome, bem como a marca Copa 5. Vivendo perto dali, num hotel na Lapa, o músico acabou se desentendendo com estes amigos.
"Ele é difícil, sempre foi radical. Por isso acabou muito isolado", diz um outro freqüentador da Pedro Lessa que prefere não se identificar. É um modo, sem dúvida, de ver as posições extremamente firmes de Meirelles, que encarava seu trabalho por encomenda como o de um ator: "Eu entrava e representava o personagem que me pediam. Toquei com o lixo e o luxo, aprendi muito com isso mas nada era meu, por isso 35 anos sem tocar minhas composições, por isso a relação distante", diz ele, que não se anima muito com o panorama da música que se faz agora. "Hoje é que você tem músicos de formação acadêmica, tecnicamente bons, que não tiveram vivência. São presos à partitura. Isso para mim é ler notas, não é tocar. Tocar é emoção", diz ele.
"Meirelles é atemporal, a gente tem uma relação muito boa. Certamente não ouvimos os mesmos discos, mas o convívio é maravilhoso", diz Délia Fischer, parceira nas tardes da Modern Sound e também num show no Hotel Novo Mundo que, no final do ano passado, voltou as atenções para o músico no circuito da cidade. "O que ele faz e sabe não se compara mesmo com nada que está por aí".
Radicalmente fiel a seus princípios, J.T. Meirelles diz que fez o que tinha que fazer. Lembra seu fascínio por Paul Desmond, o saxofonista do Dave Brubeck Quartet, justamente porque ele não fez concessões de espécie alguma – e muito menos à moda. "Ele teve a coragem de ser lírico e não imitar Charlie Parker. O virtuosismo pelo virtuosismo é muito chato. O mais importante para um músico é conquistar sua voz. Quando isso acontece, a gente presta atenção não no que ele está dizendo, mas nesta voz. Acho que aí está tudo do jazz, que é sempre igual e sempre diferente", diz o músico, que não por um acaso solta sua voz num sax alemão Regent emprestado por um amigo, músico amador, que é idêntico ao que tocava na gravação do disco, de 1964. Reconectado com o passado, ele se prepara para o futuro.
Paulo Roberto Pires - 21/06/2001 - extraído do Jornal do Brasil
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Few albums can be credited as landmarks of a given genre. But everybody agrees that "O Som", the debut album by band Meirelles & Os Copa 5, is the milestone of samba-jazz, the fusion of samba's rhythmic drive with a jazzy flow - a unique and elegant sound, uniting the best of both worlds. Kind of a tortuous bossa nova offspring, it became one of the most appreciated Brazilian music styles around the world - partially because of this record. The album, recorded in 1964, promotes the meeting of saxophonist J.T. Meirelles with a magnificent quartet: Manuel Gusmão (bass), Luiz Carlos Vinhas (piano), Dom Um Romão (drums) and Pedro Paulo (bass). It's original six-track edition became one of the most revered jazz albums of the 60's.
Tracks like "Quintessência" and "Blue Bottle's" (with an inspired piano solo by Vinhas) boast impeccable swing. The group's instrumental samba-jazz incorporates a baião groove in "Nordeste"; and also in the beautiful "Tânia". There's a melancholy touch in "Solitude", which begins with minor keys and evolves to a smooth swing, as in "Contemplação" - with a "Bill Evans tone", as Meirelles himself explains on the CD booklet, which attains the maximum performance subtlety in the album.
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Meirelles e os Copa 5
08 julho 2008
João Donato e Eumir Deodato - Donato/Deodato (1973)
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Depois da gravação do meu primeiro disco, Vôo de Coração, em 1983, comprei meu primeiro sintetizador, um poderoso Jupiter 8, da Roland. Foi apenas o início, comecei a colecionar teclados eletrônicos. Os produtores do meu 3º disco, Circular, trouxeram da Inglaterra a recém-lançada tecnologia MIDI e eu fiquei fascinado com a possibilidade de ligar um instrumento no outro, somando os timbres. Com a ajuda de um computador Atari ST, montei um pequeno estúdio MIDI em casa que aos poucos foi crescendo até virar uma sala "state-of-the-art". Isso foi em 1986. Foi um dos primeiros estúdios do genero no Brasil e, por isso, acabou atraindo a atenção de muitos músicos amigos, interessados nas possibilidades que a então-nova tecnologia oferecia, a de gravar arranjos complexos diretamente no computador sem o auxílio de fitas de gravação convencionais.
Um desses músicos era o João Donato, grande figura da Bossa Nova e autor de pérolas como "A Rã". João só conhecia o piano acústico e elétrico. Essa tecladaria toda era uma grande novidade para ele e quando ele viu a partitura sendo escrita, em tempo real, na pequena tela do computador, enquanto ele tocava, ele ficou maravilhado. Para quem escrevia suas partituras a lápis era, de fato, uma mão na roda. As possibilidades, para ele, eram enormes. Em 1989, ele passou a frequentar minha casa quase diariamente e eu, por minha vez, enquanto pilotava as geringonças todas, aproveitava a oportunidade para observar, ouvir e aprender com esse mestre do suingue carioca.
No final de cada dia, registravamos as gravações do dia em fita DAT e eu fazia cópias em K7 para que Donato pudesse ouvir tudo na casa dele. Sendo o rei do improviso que ele é, este acabou registrando muita coisa inédita enquanto aproveitava a tecnologia MIDI para elaborar arranjos completos das suas músicas.
Um dia, recebi um telefonema do meu grande amigo Sérgio Dias, guitarrista dos Mutantes, que nessa época morava no Rio.
- Estou aqui com meu amigo, Eumir Deodato. Ele está visitando o Brasil e está muito interessado em ver teu estúdio. Posso passar aí com ele hoje à tarde?
(Deodato, para quem não sabe, é considerado um dos maiores arranjadores do mundo. Além do seu trabalho próprio, é conhecido também por ser o arranjador predileto da cantora islandesa, Björk).
Liguei pro Donato avisando que naquele dia não seria possível ter nossa sessão habitual. Expliquei que o Deodato vinha em casa visitar meu estúdio.
- Deodato! Que nada, Ritchie! Ele vai aí só para ouvir minhas fitas! Pelo amor de Deus, não deixe ele ouvir nada, 'tá combinado?
- Calma, João! Isso não passa de paranoia sua. O cara nem sabe da existência das nossas fitas demo, que eu saiba. E mesmo se ele quisesse ouvir, qual seria o problema disso?
- É que ele já fez isso comigo uma vez! Mostrei uma música minha pra ele e ele voltou para Nova Iorque e fez um arranjo igualzinho ao meu, no disco dele, e pior, nem me deu crédito... Esconde as fitas, pelo amor de Deus!
- Tá bom, Donato, mas digo mais uma vez, acho que isso não passa de paranoia sua. Nem vou falar do assunto com ele e vou esconder as fitas se isso te deixa mais tranquilo...
Desliguei o telefone. Esses caras da Bossa Nova já levavam fama de doidos, mas eu havia detectado o desespero na voz dele e resolvi esconder as fitas.
De tarde, Serginho e o Deodato chegaram na minha casa. Antes de chegarmos no estúdio, nos fundos da casa, este virou pra mim e falou:
- Ritchie, alguém me disse que você anda fazendo umas demos com Donato. Sou grande fã do cara, você poderia me mostrar as fitas?
Tentei manter a cara mais lavada do mundo:
- Lamento muito, Deodato, mas o João sempre leva as fitas pra casa dele no final das sessões... não tenho nada aqui comigo que eu possa te mostrar.
E acabou ficando por isso mesmo...
-=-=-=-=-=-
Segundo um estudo feita pela Universidade de Califórnia em 1984, "Paranóia é uma forma de hiper-sensibilidade ou consciência elevada. Os casos mais extremos dessa sensibilidade ocorrem entre músicos e poetas".
Ritchie - 06/04/2005 - extraído do site do Ritchie
Para mais informação, visite o site do João Donato, o site do Deodato e confira um artigo escrito pelo músico no site da Revista Piauí
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This odd cult item, originally released on Muse in 1973, is also known as Donato/Deodato — a reference to then-hot arranger Eumir Deodato's participation and, probably, the similarity in their surnames. With the exception of the kick-off tune - the insanely catchy and wonderfully funky “Whistle Stop” — it's a brief, strange trip that meanders aimlessly and rather too lifelessly.
Even the disc's notes admit as much. The prolific Brazilian keyboardist and arranger, whose many records never make it to the US (making this a follow-up of sorts to Donato's 1970 Blue Thumb release, A Bad Donato ), just wanted some cash so he could travel. He simply arrived at the studio, knocked out some tunes, suggested some musicians, collected his cash and left for vacation. So Deodato, another Brazilian keyboardist and arranger — whose dance-floor hit, “2001,” was riding high at the time - was brought in to finish the job.
An 11-piece group was pulled together and features nice spots for Randy Brecker on trumpet (particularly on “Nightripper”), Michael Gibson on trombone, the underrated Dud Bascomb on bass and Romeo Penque on flutes/whistles. Surprisingly, the higher-profile percussionists Ray Barretto and Airto make absolutely no impact here at all.
The idea seems to have been to approximate the grander, more expensive CTI sound. As you might expect, then, Joao Donato has more of Deodato's personality, awash as it is in the latter's signature blend of first-rate funk (”Whistle Stop”) and soapy TV movie sound-a-likes (”Where's J.D.?,” “Capricorn,” “You Can Go”).
Even though it's impossible to decide whether Donato or Deodato plays the occasional electric piano solo, the overall effect will appeal to those who gravitate toward electric mood music in somewhat Latin styles. However, “Whistle Stop” - despite whatever deficits in conception - is a true funk essential and a feather in the caps of Donato, Deodato and Ray Barretto.
Tracks:Whistle Stop; Where's J.D.?; Capricorn; Nightripper; You Can Go; Batuque.
Players:Airto: percussion; Ray Barretto: congas; Dud Bascomb: bass; Randy Brecker: trumpet; Deodato, João Donato: keyboards; Mauricio Einhorn: harmonica; Michael Gibson: trombone; Romeo Penque: flute and whistle; Bob Rose: guitar; Allan Schwartzberg: drums.
Douglas Payne - October 01, 1999 - extracted from AllAboutJazz
For more info, visit João Donato's site, Deodato's site and also check Discovering João Donato
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24 junho 2008
Milton Banana Trio - Vê (1965)
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Milton Banana nasceu no dia 23 de abril de 1935 e faleceu em 22 de maio de 1999 no rio de Janeiro. Milton Banana é o músico que inventou o estilo de tocar bossa nova na bateria.
Um homem de gravação extremamente ocupado durante o primeiro período de bossa nova, ele gravou os históricos "Chega de Saudade" e "Getz-Gilberto" e gravou bastante com Tom Jobim e João Donato.
Ele também tocou pelas noites com Luís Eça, Johnny Alf, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Baden Powell, Sérgio Mendes, Luís Bonfá e Bola Sete, entre outros. Milton Banana começou a se interessar muito cedo pela música, especialmente a percussão, por ser um fã da Orquestra Tabajara.
Músico autodidata, logo ele estaria tocando com várias bandas dançantes e em 1955, ele se juntou ao grupo de Waldir Calmon, na boate de Arpège (Rio). Em 1956 ele uniu ao Luis Eça Trio, tocando na boate Plaza. Em 1959, Milton Banana estreou em gravação participando do primeiro álbum de João Gilberto, "Chega Saudade".
Em 1962, ele participou no importante espetáculo "Encontro" (produzido por Aluísio de Oliveira), junto com João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, e Os Cariocas, na boate Au Bon Gourmet (Rio).
Naquele mesmo ano, ele viajou para Buenos Aires com João Gilberto onde eles fizeram uma temporada na boate 676. Em novembro, ele foi para New York participar do show de bossa nova no Carnegie Hall. Em 1963, ele tocou bateria no "Getz-Gilberto" e viajou com João Gilberto, João Donato (piano) e Tião Neto (baixo) pela Itália e França.
Voltando ao Brasil, ele formou o seu grupo, o "Milton Banana Trio". Naquela época não era muito comum para um baterista conduzir seu próprio grupo. O trio que teve várias formações e gravou nove álbuns para Odeon e alguns a mais para a RCA.
Alguns desses ábuns foram reeditados como cd's, como são os casos de "Balançando com o Milton Banana Trio", "Sambas de Bossa: Milton Banana", "Os Originais: Milton Banana Trio" e "Ao Meu Amigo Tom".
extraído do site Clube de Jazz
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Milton Banana is the musician who invented the bossa nova drumming style. An extremely busy session man during the first period of bossa nova, he recorded the historic Chega de Saudade (João Gilberto's debut album), the equally historic Getz-Gilberto, and recorded extensively with Tom Jobim, João Donato, and many others. He also performed gigs every night with people like Luís Eça, Johnny Alf, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Ed Lincoln, Newton Mendoça, Claudete Soares, Baden Powell, Sérgio Mendes, Luís Bonfá, Bola Sete (in Punta del Este, Uruguay), and others.
Milton Banana started to be interested in music very early in life, especially percussion, and was always a fan of Orquestra Tabajara. A self-taught musician, soon he was playing with several dance bands, such as Steve Bernard's, Djalma Ferreira's, Gerardi e Seu Conjunto Rex, and others. In 1955, he joined Waldir Calmon's group, performing at the Arpège nightclub (Rio). Soon after, he went on to Djalma Ferreira's group, Os Milionários do Ritmo, which performed regularly at the Drink nightclub. In 1956, he joined the Luis Eça Trio, playing at the focal point of bossa nova, the Plaza nightclub. In 1959, Milton Banana debuted as a recording artist, participating inJoão Gilberto's first album, Chega de Saudade. In 1962, he participated in the important show Encontro (produced by Aluísio de Oliveira), together with João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, and Os Cariocas, at the Au Bon Gourmet nightclub (Rio). In that same year, he traveled to Argentina with João Gilberto, where they spent a season at the 676 nightclub. In November, he went to New York and played at the Carnegie Hall Bossa Nova Festival. In 1963, he played the drums on the Getz-Gilberto album and toured with João Gilberto, João Donato (piano), and Tião Neto (bass) through Italy and France. Returning to Brazil, he formed his group, the Milton Banana Trio. At that time it was very unusual for a drummer to lead a group. The trio, which had several different lineups, recorded nine albums for Odeon and some more for RCA, another rare accomplishment for a Brazilian drummer. Some of those LPs have been reissued as CDs, such as Balançando com o Milton Banana Trio, Sambas de Bossa: Milton Banana, Os Originais: Milton Banana Trio, and Ao Meu Amigo Tom. In 1965, Milton Banana accompanied João Gilberto in his Brazil performances. In 1977, he performed, together with João Donato, in the group Fogueira 3, playing Afro-sambas. He scaled back his activities, but occasionally performed his solo acts until his death.
Alvaro Neder - extracted from All Music Guide
20 junho 2008
Hurtmold - Sorriso Antigo . Coletânea Instrumental (2008)
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É verdade que só com Mestro é que obtiveram uma exposição superior (estiveram até presentes na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, há pouco tempo), mas os Hurtmold, oriundos de São Paulo, no Brasil, já começaram este trajecto há oito anos. Depois de um par de lançamentos em cassete, Et Cetera, o disco de estreia, surgiu em 2000 no selo Submarine Records, uma editora dedicada aos sons mais marginais da música brasileira (além dos Hurtmold, a Submarine é casa de discos de projectos como M. Takara, membro dos Hurtmold, os Eternals de Chicago, os Diagonal e os Againe). Dois anos depois Cozido foi editado pela mesma Submarine, mas foi com o excelente Mestro que os Hurtmold saíram para fora do Brasil, especialmente na direcção da velha Europa. Pelo meio houve ainda tempo para um split CD com os Eternals (editado em 2003), alterações na formação dos Hurtmold (constituídos por Fernando Cappi (guitarra e bateria), Guilherme Granado (teclados, vibrafone), Marcos Gerez (baixo), Maurício Takara (bateria, guitarra, teclados e trompete) e Rogério Martins (clarinete e percussão) e alguns concertos em alguns famosos festivais europeus, certames dedicados às mais variadas linguagens musicais. Na verdade, embora os Hurtmold partam do rock, desdobram-se em viagens pelos mundos do jazz, da electrónica, da música brasileira. Um verdadeiro caleidoscópio musical que urge ser descoberto. Gilherme Granado, a voz dos Hurtmold cuja ausência em Mestro faz com que os Hurtmold se mostrem cada vez mais instrumentais, responde a algumas perguntas de rotina, em jeito de conversa trivial de irmão para irmão. No fim, fica o cheiro de São Paulo no ar e a certeza de que aquilo que os Hurtmold fazem é do melhor que se faz no Brasil.
O que é que recordam do início dos Hurtmold, do tempo dos skates?
Nós éramos todos amigos de longa data... e não através do skate... na verdade, apenas três da banda têm um passado ligado ao skate. Eu ainda ando às vezes... Começámos por afinidades pessoais, e porque outras bandas nas quais todos nós tocávamos estavam acabando ou estavam meio paradas. A coisa deu certo desde o primeiro ensaio, e nisso já se vão oito anos...
Os Hurtmold começaram a tocar punk e harcore, mas com o tempo evoluíram musicalmente e abriram espaço a outras linguagens. Como se deu essa evolução?
Naturalmente. Viemos de uma tradição punk, ainda mantemos muito disso e nada foi pensado com clareza, fomos tocando, crescendo juntos e as coisas deram-se de uma forma orgânica.
Como se deu a ligação com a vossa editora, a Submarine Records? Qual é a posição da editora face à música feita em São Paulo?
Também por vínculo e amizade, o Fred (da Submarine) é nosso amigo de longa data também. Desde o inicio ele está connosco e a nossa relação é óptima...
Como é que vêem a cena musical de São Paulo, especialmente a que diz respeito ao pós-rock?
Não sei dizer nada sobre pós-rock... não acho que esse título muito esclarecedor e não sei exactamente a que tipo de som ele se refere... mas existem muitas bandas fazendo coisas interessantes em São Paulo, de todo tipo de música. Bandas como Discarga, Cidadão Instigado, Nação Zumbi, Space Invaders, gente do hip-hop... é uma cidade gigante, com todo tipo de gente produzindo todo o tipo de arte.
A entrada de Rogério Martins para o clarinete e percussão. A entrada de um novo elemento na banda respondeu a um desejo de evolução dos próprios Hurtmold?
Abriu toda uma nova perspectiva para a gente. O Rogério também é nosso amigo de muito tempo e tê-lo connosco é um prazer. Mais um para a família. E a música tomou outra guinada após a sua entrada. Estamos felizes.
Gravaram um split CD com o trio Eternals de Chicago, disco que foi editado no Brasil em Julho de 2003. Como foi essa experiência?
Óptima. Os Eternals são uma das nossas bandas favoritas e dividir qualquer coisa com eles é uma honra. Já éramos fãs dos Trenchmouth (outra banda de Wayne e Damon, dos Eternals). Ter um registo com uma de suas bandas favoritas é sempre muito inspirador. Acabámos virando bons amigos e eles devem voltar ao Brasil para tocar connosco em breve.
Para promover o lançamento desse disco andaram em tour pelo Brasil com os Eternals e tocaram em três cidades: São Paulo, Campinas e Belo Horizonte. Como reagem as pessoas de outras cidades à música feita pelos Hurtmold, tendo em comparação as diferenças óbvias entre todas elas?
Nessa tour especialmente foi tudo extremamente bem... todas as cidades tiveram bom número de público e as pessoas reagiram muito bem à nossa música. Já tínhamos tocado antes nas três cidades também... mas geralmente o publico é caloroso. Com raras excepções.
Em Mestro cruzam linguagens pós-rock com jazz, mas deixam sempre transparecer alguma brasilidade nas vossas composições. Como acontece o processo de criação nos Hurtmold?
Ouvimos de tudo, temos vivências diferentes, e tudo isso entra na hora de compor. Tentamos deixar tudo fluir de uma maneira orgânica. Cada música tem uma história. Tentamos deixar cada uma respirar e tomar vida própria. Não temos uma fórmula de composição. A brasilidade entra, afinal nascemos e vivemos aqui. Mas também nada é pensado antes.
O vosso último disco, Mestro, trouxe aos Hurtmold uma exposição bastante maior do que aquela proporcionada por registos anteriores. Estavam à espera de uma reacção desse género?
Nunca esperamos nada. É óptimo ser reconhecido pelo seu trabalho e ter gente indo aos shows e comprando os discos. Ficamos muito felizes, mas realmente não pensamos nisso. Vamos tocando, do mesmo jeito que fazemos há oito anos... Tudo isso tem sido muito bom mesmo.
Estiveram há pouco tempo a promover Mestro na Europa. Como é que tudo correu? Como é que a reacção das pessoas difere tendo como comparação o Brasil e a Europa?
Tudo correu incrivelmente bem. A resposta das pessoas foi muito melhor do que esperávamos. Em todos os shows. A diferença básica é que na Europa ninguém nos conhecia, e aqui já temos um certo público... em todos os shows pela Europa fomos recebidos de forma bastante calorosa. Foi muito bom e esperamos voltar em breve.
Curiosamente, os Hurtmold estiveram já presentes em festivais como o Sònar e o Electronika, certames com ligações à música electrónica. Actuaram também no Londrina Jazz Festival. Sendo os Hurtmold uma formação com base no pós-rock, como é que reagem quando tocam nesse tipo de festivais?
Como já disse antes, não acho que nos encaixamos em nenhum rótulo. Fazemos música, com base nas nossas experiências. Temos uma formação de rock e acho que temos até hoje muito disso na maneira de tocar. Gosto de dizer que somos uma banda de rock. E festivais de todo tipo de música se interessarem pelo nosso som é muito bom, prova que não estamos limitando-nos a um tipo de música ou atitude especifica, o que me soa muito positivo.
Como é que olham para a música feita no Brasil nos dias de hoje? Quais são os projectos aos quais reconhecem validade e qualidade musical?
Muita gente faz e vem fazendo coisas boas no Brasil, há muito tempo. Já citei alguns como Nação Zumbi, Cidadão Instigado, Discarga, Space Invaders... temos o Racionais MCs também, Hermeto Pascoal, Ratos de Porão e muitos outros... o Brasil tem sempre gente boa fazendo música.
Tendo em conta que os Hurtmold são um colectivo de músicos em constante evolução musical, onde é a próxima paragem em termos sonoros? Têm planos para um novo disco?
Estamos devagar compondo coisas novas, não temos ideia de datas para começar a gravar ainda. Está tudo no começo... para onde iremos? Não sei dizer, mas estou confiante na nossa direcção daqui para a frente, tudo está mais livre e empolgante. Esperem mais música em breve...
André Gomes - 21/08/05 - extraído do site bodyspace.net
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With the European release of Mestro, the latest record by post-rock outfit HURTMOLD, Nacopajaz invites you on a most fascinating journey to the thriving Brazilian alternative scene.
Created in 1998 by its leader Maurizio Takara, who also plays the drums for Instituto, one of the best hip-hop acts in Brazil, the six-piece band resolves around Fernando and Mario Cappi (guitars), Guilherme Granado (teclado, vibes, escaleta, programming), Marcos Gerez (bass), Maurizio Takara (drums, vibes, trumpet) and Rogério Martins (percussions and clarinet).
On their fourth output, the genre-defying outfit - which has been branded by critics and listeners alike as Brazil’s very own answer to Tortoise - shows stunningly how amazingly free and ahead of both their time and peers musicians from Sao Paulo are. The home of many a ground-breaking out-rock acts such as Os Mutantes, Tom Zé or several new wave bands in the eighties, Sao Paulo is at the core of an experimental and electronic-dominated musical scene which successfully blends a variety of unexpected influences. Far from the pictures of exotic beauty and sunny beaches conveyed by Rio De Janeiro, a city still deeply rooted in its tradition of Bossa Nova and Samba, Hurtmold’s music is the perfect soundtrack to Sao Paulo. Organic and tormented, rhythm-based and instrumental, it mirrors the atmosphere and the very spirit of their sprawling and sometimes wind-battered and rainy hometown.
Hurtmold's unique sound, intertwining a traditional rock instrumentation with vibes, clarinets and teclado, among other instruments, stems from a collective approach to their music. The most Chicagoan of Sao Paulo’s bands has already issued a split record with Chicago-based act The Eternals, and has been collaborating with Rob Mazurek, of Chicago Underground and Isotope 217 fame. Their inspiring live performances, which often leave quite a lot of room to improvisation, have enabled the band to let their taste for experimentation shine through.
Mostly instrumental, their music is nonetheless meaningful and has a lot to say, be it with intricate soundscapes entangled around a mesmerizing bass line, delicate guitar patterns and electronic glitches (as can be heard on Miniotario), or when the band digs deep into its roots on the percussion-based Kampala, with its wonderful guitar parts, its deep throbbing bass and its elaborate rhythms. On the other hand, a song like Chuva Negra, with its lyrics sounding as so many political statements and its grinding and nervous guitars, harks back to the band’s punk and post-rock influences (among which The Minutemen, Fugazi, Black Flag and Mogwai), and testifies to how hard to label their sound is.
So much the better, as their fourth record, which includes two unreleased songs (Kampala and Amansa Louco), cannot but enthrall the listener.
Mestro is definitely one of the most exciting and fascinating finds coming from the Brazilian alternative scene and shatters into pieces your stereotyped vision of Brazil as a fun-loving, carnival-obsessed country.
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