03 junho 2008

Nivaldo Ornelas - Reciclagem - Ao Vivo (1999)

Capa do disco
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Nivaldo OrnelasCompletando 40 anos de carreira Nivaldo Ornelas tem muito a comemorar. Inúmeros discos de carreiras e participações (nacionais e internacionais), prêmios, troféus, enfim, uma trajetória impecável, além de ser muito querido e requisitado em nosso meio musical. Em entrevista exclusiva ao Alô Música conta um pouco de sua história.

Como a música entrou na vida de Nivaldo Ornelas?
Nivaldo Ornelas- Meus pais são músicos amadores, e tinham um grupo de seresta, chamado Revivendo o Passado, em Belo Horizonte. Sendo eles músicos amadores, tendo eles sacado que eu tinha talento para a música, me encaminharam para uma escola muito boa chamada Escola de Formação Musical. Essa escola foi fundada por Heitor Villa-Lobos, assim como outras escolas de música pelo país.

E aonde isso?
NO- Em Belo Horizonte. Eu tinha 10 anos de idade. Enfim, aos 16 anos estava pronto - nisso veio música básica, um negócio muito bem feito. Estudei no Conservatório, na Escola de Música. Eu queria tocar clarinete, aos dezesseis anos já tocava na Sinfônica Jovem.

Mas a opção do primeiro instrumento?
NO- Não, eu passei por vários instrumentos, toquei acordeon, flauta de lata, segundo a minha mãe eu cantava, mas cantava escondido, debaixo da mesa, aquelas coisas.

E nessa época, quais eram as influências, o que você ouvia?
NO- Rolava muito sarau na minha casa. Não existia televisão, então rolava música de todo jeito na minha casa, inclusive moda de viola. Havia nessa época, uma dupla de violeiros, mas era música instrumental. Os 'caras' faziam uma espécie de desafio. Eu achava interessantíssimo: aqueles caras vinham lá do meio do mato e tocavam muito bem. É uma tradição mineira que vem do ciclo do ouro, aquilo me fascinava.

Essa sua relação com o barroco...
NO- Eu nasci no meio dele - parte da minha infância eu passei em Nova Lima, cidade próxima a Belo Horizonte. Meus tios trabalhavam na Mina de Morro Velho (Saint John Del Rey Mining Company). Lá parecia uma vila inglesa, com toda aquela atmosfera pós-medieval e renascentista. Eu respirei muito isso na infância com seis, sete anos de idade. Paralelamente a isso, tinha a coisa da música religiosa. Minas Gerais era um convento só. E, além disso, existiam aquelas manifestações via África e que ainda existem, como a Folia de Reis e o Congado. Numa época em que não tinha televisão, os costumes eram mais fortes, a raiz. Você tinha isso em todo lugar, você convivia com isso.

Bom, nós vamos sair do barroco, de toda essa influência do barroco, e vamos cair diretamente no jazz. Então, como é que entra o jazz na vida de Nivaldo Ornelas? O que ele ouve, quais são as influências?
NO- Quando eu tocava acordeom, eu ouvia Luiz Gonzaga e adorava! Achava muito bom aquilo, muito espontâneo. Depois, quando eu comecei a tocar clarinete, eu ouvi Benny Goodman - achei interessante, e falei "oba! - que som bom, gostei muito, uau!". Aí, aos dezessete, dezoito anos, eu e mais quatro garotos fizemos um clube de jazz, que se chamava "Berimbau" - uma loucura. Foi o primeiro clube da cidade. Nós pegávamos alguns discos de jazz na Embaixada Americana e foi aí que tudo começou. O primeiro disco de jazz que ouvi foi de John Coltrane. A música "Ruby my Dear" do disco The Prophet do Thelonius Monk me despertou o interesse pelo saxofone, que foi uma coisa definitiva. Coltrane foi a minha grande influência, junto com Miles Davis, Monk, além de Ravel, Debussy e Richard Wagner.

Então eu acho que acertei quando disse na resenha que "... se John Contrane ouvisse..." - rs
NO- É, é... Ele gostaria.

Então eu acho que eu dei uma acertada nessa entrada...
NO- Tanto que você sabe que eu peguei o disco dele, o "The Prophet" (Monk e Contrane), passei um ano tirando todas as músicas, um ano da minha vida. Tirei todas as músicas dele, gravei em playback, fazendo com metrônomo e violão - gravei todas as músicas e comecei a praticar. Passei todo esse material para os meus alunos, porque na época ainda não havia esse tipo de estudo no Brasil. Foi ótimo para a rapaziada.

E o circuito da música? Porque você faz um clube, funda um clube com seus amigos lá em Belo Horizonte, mas como você é descoberto ou como você descobre o mercado - como o mercado descobriu Nivaldo Ornelas?
NO- Na verdade, toda a minha geração de lá veio para o Rio de Janeiro, inclusive o próprio Milton, Wagner, Toninho Horta, Paulinho Braga, Helvius Vilela e Pascoal Meirelles. Lá não havia mercado. A gente era sonhador, a descoberta se deu na verdade no Rio de Janeiro. Chegando, o Paulo Moura me convidou para tocar numa banda só de jovens com mais o Márcio Montarroyos, Claudio
Roditi e Pascoal Meirelles, entre outros.

E como se chamava essa banda?
NO- "Paulo Moura e Sua Banda Jovem". O Osmar Milito, que toca no Mistura Fina também estava lá. E o Paulo foi o grande mentor. Ali foi a grande descoberta realmente. No cenário da música - não foram eles, mas fui eu que os descobri. Eu era um ilustre desconhecido.

Nivaldo e Cid OrnelasE por quanto tempo a banda ficou com essa formação?
NO- Isso demorou um ano, porque logo em seguida eu conheci o Hermeto em São Paulo, na boate Stardust. Eu e Paulinho Braga. E ele falou:
- Você é de onde?
- Eu sou de Minas.
- E de onde vem essa sua maneira de tocar?
- Eu não sei.
- Eu vou para os Estados Unidos, gravar com a Flora Purim e o Airto e quando eu voltar, vou fazer uma banda experimental. Vai ser pra sacudir o coreto. Você topa ir para São Paulo?
- Correndo! Porque eu o vi tocando e eu não entendi nada! Esse é o cara.

E não deu outra. Um ano depois, Hermeto voltou e nos encontramos no Festival da Canção aqui no Rio. Ele disse:
- Vamos fazer a banda?
- Vambora!

E aí foi um reboliço...

Quanto tempo isso?
NO- Um ano. Aí ele voltou para os Estados Unidos. Na volta me chamou novamente para ir a Montreux e ao Japão.

É, eu tenho esse trabalho inclusive. "Hermeto em Montreux".
NO- Isso! Eu estava ali. Eu tenho uma revista Manchete que tem uma foto nossa na capa. E ali foi bom porque eu andei rápido. Eu estudava muito e foi quando a ficha caiu.

Eu pessoalmente começo a observar o Nivaldo Ornelas num solo muito interessante em "Beijo Partido".
NO- Isso é mais atrás, 75/76. "Minas".

Exatamente. "Minas". Ali você já participava de todas essas gravações, estúdio.
NO- Com certeza. É que o Milton, depois que apareceu no cenário, quis reunir a nossa turma. E reuniu mesmo. Nesse disco é toda a nossa turma, mais o Luiz Alves e o Robertinho, que são agregados. E pegou na veia. Aquele disco, que teve uma união, uma direção.

Maravilhoso. Uma pintura na verdade.
NO- Através daquele disco, todos nós viajamos para fora do Brasil. E aí eu comecei a gravar com todo mundo a partir dali.

A partir dali. Citei porque como eu acompanhei mais ou menos o que você percorreu. É que você fez uma referência ao Hermeto já nos anos 80 - aí eu estou voltando lá em 75 porque aquilo ali foi uma marca.
NO- Dois discos. Esse do Milton, "Minas", e o Toninho Horta, "Aquelas Coisas Todas", disco paralelo, feito na mesma época. "Bons Amigos". Isso rodou por aí. Os caras tiravam os meus solos desses discos. O Idriss Boudrioua me disse que até na França isso acontecia. Quem também me procurou foi o Lyle Mays, pianista da banda do Pat Metheny para saber mais detalhes das nossas gravações.

Nos final dos anos 80, começo dos anos 90 existia uma movimentação, principalmente no Rio de Janeiro, em relação à música instrumental. Então eram feitos vários projetos, Parque da Catacumba, Parque Garota de Ipanema, projetos da Nexus inclusive. Depois existe uma ruptura, pela invasão de outras influências no mercado, enfim...
NO- A partir de 10 anos, 93/94, houve um esvaziamento.

E você atribui a quê?
NO- O problema maior é a violência. As pessoas vão ficando com medo e vão sumindo das ruas, principalmente à noite. Isso atrapalha muito, os projetos. Outra coisa é que o país empobreceu e a gente é considerado coisa supérflua. Isso do ponto de vista de projetos.

Ou do ponto de vista de gravadora?
NO- Do ponto de vista das gravadoras, a pirataria está destruindo.

Existe hoje no mercado fonográfico muitas pessoas com trabalhos instrumentais totalmente à margem do mercado fonográfico. O mercado fonográfico não tem interesse hoje em editar esses trabalhos, por não serem vendáveis, etc. Você acha que aquele slogan "Música é Cultura" ainda tá valendo?
NO- Sempre valerá. Porque, na verdade, esse é um caminho bem undergrownd - eles sobrevivem. Você não está vendo, mas eles estão por aí.

Tá, mas a gente está falando da massificação como houve, por exemplo, nos anos 80, quando as pessoas iam, e não houve continuidade. Eu queria que você me desse um parecer sobre o momento da música instrumental no Brasil. Existem hoje festivais isolados como o Festival de Guaramiranga no Ceará, em pleno Carnaval.
NO- Antes só tinha festival no Rio de Janeiro. Hoje tem Festival em Governador Valadares, Maceió, Búzios. Tem projeto para todo o lado. Outro dia eu estava em Ipatinga, Minas Gerais, tocando com o pessoal lá de jazz. Então, o que está acontecendo? As pessoas acordaram em outros Estados. No Rio continua, não é que esvaziou tanto, mas o que acontece é que agora tem no Brasil inteiro. Do ponto de vista da criatividade dos talentos, está melhor do que nunca. Eu fico impressionado.

É verdade.
NO- Porque a rapazeada de 18, 20 anos tem informação, o cara anda rápido. Você vê - ele hoje está aqui e daqui a seis meses você o encontra em outra situação, já evoluiu. Um exemplo disso é o Marcelo Martins e o Eduardo Neves, que estão tocando conosco. Marcelinho e Eduardo fizeram um "zuuuuuum". No meu tempo as coisas vinham de navio, você custava a descobri-las. Você ouvia o galo cantar e não sabia onde. Hoje o cara tem vídeo de shows, Free Jazz. Os caras vão lá. Tem muita gente talentosa aqui no Rio de 20, 21 anos. Tem um menino que toca bateria, o Rafael Barata - de 20 anos - que já está no fim do livro. Os meninos estão tocando tudo. Por esse lado está mais rico.

E você vê a possibilidade de um aquecimento no mercado? Eu pessoalmente acho que Niterói, por exemplo, tem um outro formato em relação à música instrumental. Niterói se promove bem mais festivais.
NO- Mas aqui no Rio também acontece muita coisa.

E a rádio, por exemplo?
NO- Não toca. Mas não toca no Brasil inteiro. Nem em Niterói. Não toca. A questão é grana. As multinacionais compram os horários e eles vão ter o retorno. Então aqui no Brasil, com essa mentalidade, se a gente tivesse um negócio governamental mesmo, 5%, 1% da programação, se resolveria logo esse problema. Você se lembra da Rádio Opus 90? Aquilo ali era o seguinte: pelo que eu fiquei sabendo as outras rádios é que fecharam a Opus. Ela estava começando a incomodar. Música erudita. Lançamento de disco instrumental - era um espaço. Tesouraram aquela rádio. Isso é complicado. Se o governo entrar no meio. Senão, esquece.

Como está o momento social para o músico? Como está o país para o músico?
NO- Dizem por aí que músico só fala de música - tudo bem, é que o universo é muito rico. Mas a verdade é que a prioridade do país, na minha opinião, é saúde e educação. Isso vem em primeiro lugar. Aliás, antes disso vem o combate à fome. O pessoal combate muito o projeto Fome Zero, mas é um princípio, alguém está fazendo alguma coisa, ninguém fez antes. Não é o ideal, tudo bem, mas é um começo. Em seguida saúde e educação porque a gente só se tornará uma nação quando isso for realmente prioridade. Aí em seguida a gente passa a falar de música, de arte, disso e daquilo - isso é prioridade.

Você acha que de alguma maneira isso acaba refletindo diretamente no momento do trabalho?
NO- Eu acho que o artista pincela o momento que ele vive. Os pintores no tempo da guerra, aqueles pintores que estavam nos campos de concentração pintavam aquele momento em que viviam e isso passou para a posteridade. Nós músicos tocamos o nosso momento. Botamos pra fora o momento que a gente vive. Independe - não precisa estar um mar de rosas para você estar criando alguma coisa. Às vezes muito pelo contrário.

Perfeito! E esse panorama musical? Vamos falar da organização da música, dos músicos.
NO- Do plano artístico acho que estamos num ótimo momento. É engraçado, geralmente são contrastes. Eu acho que a gente vive um grande momento de criatividade, tem muita gente jovem, os músicos da minha geração, um momento muito bom. Agora, do lado do músico como profissional, da sobrevivência, eu acho o músico brasileiro, e no caso aqui no Rio de Janeiro, ele tem que se aproximar do Sindicato dos Músicos. É a sua representatividade. Estou achando que o pessoal está longe do sindicato - fala: "-Ah, o sindicato não faz isso, não faz aquilo." O sindicato é que nem o governo, nós somos o sindicato. Ele não está lá, ele está aqui. Ele é o governo, mas quem o elegeu fui eu. Então os músicos precisam se aproximar, pensar coletivamente. O universo do músico geralmente é tão rico que ele se basta e acha que não precisa. Mas não é por aí, tem que procurar se aproximar.

Você está dizendo que músico é vaidoso?
NO- Mas é muito! Não é pouco não, é muito! Porque na verdade a vaidade tem um lado bom. Ela é a mola que impulsiona a pessoa para frente. Ela é o tempero, sem vaidade nenhuma tanto faz e eu acho que não é por aí. A vaidade de ter seu trabalho reconhecido, de estar fazendo uma coisa bonita, enfim. Mas, por outro lado, só vaidade? E aí? Porque é tão lindo ser músico, maravilhoso, que o cara acha que é um gênio e não é bem por aí.

Alguns músicos no Brasil hoje têm a possibilidade de ter seus trabalhos solo, mas outros não. Sobrevivem acompanhando cantores, algumas estrelas. O que você tem a dizer sobre essa relação de cantor x músico instrumentista?
NO- Praticamente, a única experiência nessa área foi com o Milton Nascimento, num relacionamento de respeito mútuo. Ele é um grande artista, um mito! Mas antes de tudo um músico e como tal, sabe reconhecer o talento de quem o cerca. Em termos de estúdio, praticamente gravei com todo mundo aqui no Rio. Só posso falar bem. Tenho sido tratado com muito carinho. Agora, tenho
alguns amigos que acompanham cantores e que reclamam da falta de respeito sim!

Interessante a sua história com a Sarah Vaughan. Você teve oportunidade de tocar com outros cantores músicos?
NO- A Sarah Vaughan tratava a gente como se fossemos os maiores do mundo, isso para eles é cultural, lá é assim. Não existe diferença entre músico e cantor, é tudo uma coisa só. Também trabalhei com a Lucia Newell, uma cantora e pianista americana fabulosa. Ela gostava de me ver improvisar. Em algumas músicas ela só cantava no final. Interessante não é? Eu falava: "Caramba! Não estou acostumado com isso!"

Nivaldo OrnelasÉ, isso no ponto de vista da carreira do músico instrumentista fica muito complicado porque essa projeção da música instrumental hoje ainda é muito pequena. Veja a música sinfônica.
NO- Isso aí é um assunto que a gente tem que falar muito. A música sinfônica. Música sinfônica, música erudita. Todo o show businness, no caso do Brasil, está ancorado na música sinfônica. Todas as atividades de televisão, de rádio, de shows, dos cantores, música lírica, a ópera, o teatro, o balé, o cinema, tudo é amparado na música de qualidade. Você não coloca qualquer coisa. E para fazer música de qualidade tem que ter músicos de alto nível. E de onde vem esse povo? São os músicos das orquestras sinfônicas. Acontece que os governos tinham que dar total apoio a isso, porque é a base de tudo, é a base de toda estrutura artística de um país. Pode ver, não existe balé sem música, teatro sem música. Pavarotti vem ao Brasil - tem que colocar a melhor orquestra. É ou não é? Michel Legrand foi tocar na Lagoa - pegou o pessoal da Sinfônica Brasileira, é tudo assim. O músico sinfônico é um cara que estudou em universidade, ele é formado, ele estuda, tem que ter os melhores instrumentos. Para você ter uma idéia, um encordoamento de violino custa quinhentos dólares, um arco mil dólares (coisas de nível). Tem um instrumento que se chama contra-fagote, de madeira, que custa trinta mil dólares. Imagina métodos, encordoamentos. Uma palheta de oboé é de cana do reino, você tem que importar. Esse material de trabalho é muito caro. Se o músico não tiver apoio, como ele sobrevive? O Brasil é um país de 170 milhões de habitantes. Provavelmente existem umas três ou quatro orquestras de alto nível, o resto está sobrevivendo dignamente. No Rio de Janeiro, que é um lugar com muita tradição nessa área, porque o movimento aqui começou cedo, a nossa principal orquestra se chama "Orquestra Sinfônica Brasileira". Por incrível que pareça ela tem um nível muito bom ainda, mas isso na base da garra dos músicos, da alma, do amor que os caras têm pela música, apesar dos problemas. O prefeito César Maia está dando uma força, não sei se você está sabendo. Ele está ajudando a Brasileira, a Petrobrás fundou a Orquestra Pró-Música, a Alerj ajuda a Orquestra Filarmônica do Rio e o Teatro Municipal também está dando uma força para ver se joga para cima, para melhorar o panorama artístico da cidade. Eu acho que a coisa mais importante no âmbito artístico é a música sinfônica.

E é fácil massificar isso porque quando você vê uma apresentação de uma Orquestra Sinfônica, como o "Projeto Aquarius", aqueles projetos que existiam antigamente, você via que não tinha lugar para mais gente.
NO- Não tem essa que o povo não entende, se ele para para ouvir, certamente vai gostar. O pessoal investe muito em segurança, com essa violência que está aí. Caramba! Leva a música sinfônica na favela, pelo menos perto da favela, pelo menos na periferia. Ninguém vai atacar os músicos, jamais, eles são intocáveis. Leva som, leva muita música, leva balés e tal para esse povo. É um começo, é o inverso, e está dando trabalho para os músicos.

É, e tirando esse pessoal da margem da exclusão. Porque essas pessoas são excluídas socialmente.
NO- Eles estão fazendo um projeto de levar o pessoal ao Municipal - eu acho que não precisa tanto, calma, vai devagar. Leva os músicos até eles, é muito mais fácil levar os projetos. Porque para os músicos sinfônicos no Brasil a situação está difícil e ninguém fala nada. Há um silêncio constrangedor. Presta atenção: vem não sei quem no Brasil - tem que pegar aquele povo, essa nata - é neles que os músicos se espelham porque eles estão em outro nível. Não esquecer que eles são os professores da maioria das escolas da cidade.

Mas você acha que isso não sensibiliza nem o Ministro que é um músico?
NO- Olhando de longe, a impressão que dá é que o Gilberto Gil está com muitos problemas. Em um país em que faltam recursos em áreas básicas como educação e saúde, não há como investir mais em cultura. Na verdade, nós músicos só falamos de música. Mas é preciso lembrar da arte como um todo: música, artes plásticas, teatro, literatura, cinema e vai por aí afora. No caso do Ministro, ele tem que pensar em tudo isso ao mesmo tempo, não é fácil.

E Nivaldo Ornelas ouve o quê? Quem o Nivaldo ouve hoje?
NO- Na verdade eu não tenho muito tempo para ouvir, pois sendo compositor, passo o dia inteiro ao piano fazendo música...Mas eu ouço música erudita, além da MPB e do jazz, é claro. Atualmente estou ouvindo dois compositores - um é o Richard Strauss, o outro é o Vaughn Williams, um compositor inglês que influenciou a música do faroeste americano, no princípio do século passado.

Eu pude observar, nesse seu recente trabalho, "Reciclagem", tem alguma coisa de alguma tribo ali. Do Xingu, de onde é isso? Onde é que você foi buscar isso?
NO- São trechos tirados de coisas que realmente ouvi, e mais o clima do momento. A gente improvisa muito. Falando das influências, tem a música indígena, africana, impressionismo e da Broadway. É muito forte, quando se tem eu e Robertinho Silva juntos. É tudo absolutamente improvisado. Cada dia é diferente do outro. A gente vai buscar tudo lá do fundo do baú, é uma viagem pra dentro. É tudo o que eu vi, vivi e ouvi.

E novos trabalhos, alguma coisa?
NO- Eu vou lançar um disco esse ano que se chama "Viagem em Direção ao Oco do Tôco". Eu e o pianista André Dequech. Um som como se fosse uma conversa, que nem a gente aqui agora, não tem nada prévio. É como uma conversa que acerta, depois desacerta, questiona, briga. E retoma no final.

Você falou em 88 - dois anos depois você faz a "Colheita do Trigo". Aquilo é um belo disco e eu lamento muito não terem re-editado isso.
NO- Mas eu tenho uma notícia boa. Fui lá na Som Livre, não sei se te falei.

Não, está sendo em primeira mão.
NO- É que era da Som Livre (selo Chorus). Eles não vão continuar com o selo e me deram o master - agora sou dono.

Maravilha!
NO- Será lançado em CD. E tem aquela música que te falei. "Nova Lima Inglesa"

E já tem um tempo para isso?
NO- Tá faltando só o dinheiro para a prensagem. Como eu tenho dois discos, vou ver qual que vou lançar primeiro. Mas ele certamente está vindo por aí.

Entrevista por Aloizio Jordão - extraída do site Alô Música
Para mais informação, visite o site do Nivaldo Ornelas

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Nivaldo OrnelasNivaldo Ornelas is an important musician with a solo career and a solid resumé as sideman, performing, recording, and/or touring with such names as Gary Peacock, Jack DeJohnette, Egberto Gismonti, Wagner Tiso, Milton Nascimento, and many others.

Ornelas began to play accordion very early. At 16, he was already playing clarinet and was a member of the Orquestra Sinfônica Mineira. Soon he was playing saxophone at dance parties, when he created the Berimbau bar, where he played with those who would be known as the Clube da Esquina: Milton Nascimento, Toninho Horta, Wagner Tiso, the Borges brothers, and others. In 1967, he formed the Quarteto Contemporâneo with pianist Jairo Moura, bassist Tibério César, and drummer Paulo Braga. In 1970, he moved to Rio and joined the Som Imaginário group. With Wagner Tiso (keyboards), Robertinho (drums), Tavito (12-string violão), Luís Alves (bass), Laudir (percussion), Zé Rodrix (organ, voice, percussion, flutes), and Toninho Horta (guitar), the group was formed to accompany Milton Nascimento in the show Milton Nascimento e o Som Imaginário at the Teatro Opinião (1970, Rio). In 1970, the show moved to Teatro da Praia and Naná Vasconcelos replaced Laudir. Moving again to the Sucata nightclub, the group was joined by Frederiko on guitar.

That year, the group also performed in São Paulo and recorded their first LP, Som Imaginário (Odeon). In 1971, the group accompanied Gal Costa at the Teatro Opinião and also recorded their second album. In 1971, the group wrote and recorded the soundtrack to the movie Nova Estrela; the band also went on accompanying Milton Nascimento. With Novelli (bass) and Paulo Braga (drums), the group recorded a third LP, A Matança do Porco, whose title track had been written as the theme song to the film Os Deuses s os Mortos (Ruy Guerra, 1970). They also backed Macalé, Carlinhos Vergueiro, and Sueli Costa.

During all of his stint with Som Imaginário, Ornelas also worked with such talents as Hermeto Pascoal, Paulo Moura, and others. With Flora Purim and Airto Moreira, he toured the U.S. coast to coast in 1978, performing at the Newport Jazz Festival and the Festival Intemacional de Jazz de São Paulo. He also then recording his first solo album, Portal Dos Anjos, which earned him the Villa-Lobos award for the Best Instrumental Album of the Year. As a sideman for Hermeto Pascoal, Ornelas performed at the Montreux and Tokyo Jazz Festivals. With his band BR1, he performed at the Rio Jazz Festival. As sideman for Egberto Gismonti, he recorded Trem Caipira and Academia de Danças. His soundtrack for the movie João Rosa (Helvécio Ratton) was awarded as the Best Soundtrack at the Festival de Cinema de Brasília. In 1982, he again received the prize for his soundtrack for Dança dos Bonecos (same director). His soundtrack for Fernando Sabino's Encontro Marcado also was awarded twice. That year, he toured Europe as sideman for Milton Nascimento. In France, he recorded his solo album A Tarde. In 1983, he performed at the Festival de Jazz de Brasília and also released his LP Viagem Através de um Sonho, which he was awarded by APCA as the Best Reed Player of the Year. This LP would be awarded in 1984 with the Chiquinha Gonzaga prize, a year in which he released the album Som e Fantasia with keyboardist Marcos Resende. Planeta Terra was another of his lauded albums by the specialized critics. In 1994, he participated on the album Songbook Antônio Carlos Jobim Instrumental (Lumiar) and at the Festival Banco do Brasil Mundial, when he recorded another CD, shared with pianist Amilson Godoy, which was also released in the ten-CD box set released by Tom Brasil. As a sideman, he participated in 1997 on the CD Paradiso by the composers Celso Foseca/Ronaldo Bastos. In 1998, he participated as sideman on Dom Um Romão's CD Rhythm Traveller, a year in which he released his CD of live shows, Arredores. In 1999, commemorating his 55 years, he invited for live shows such talents as Oswaldinho do Acordeon, bassist Arismar do Espírito Santo, Hermeto Pascoal, pianist Nelson Aires, and singer Vânia Bastos. In 1999, he performed at the Heineken Concerts with Toninho Horta, Gary Peacock, and Jack DeJohnette.

Alvaro Neder - extracted from All Music Guide
For more info, visit Nivaldo Ornelas' site

2 comentários:

mvcosta disse...

Nivaldo Ornelas - "Reciclagem - Ao Vivo" (1999 - TetraPak 6349.375 / NLO-01/99)

1. Intro
(Nivaldo Ornelas)

2. Eu Coração Goiânia
(Nivaldo Ornelas)

3. Imagens na Água
(Nivaldo Ornelas)

4. Canto da Montanha
(Nivaldo Ornelas)

5. Hino Nacional
(Joaquim Osório Duque Estrada - Francisco Manuel da Silva)

6. Hino à Bandeira
(Olavo Bilac - Francisco Braga)

7. Nova Granada
(Nivaldo Ornelas)

8. Imagens da Lua
(Nivaldo Ornelas - André Dequech)

9. Hermetiando
(Nivaldo Ornelas)

10. Batuque
(Nivaldo Ornelas)

11. Naim
(Cid Ornellas)


Nivaldo Ornelas: vocal solo, sax soprano e flauta
Cid Ornellas: violoncelo e vocal
Cláudio Dauelsberg: piano e teclados
Celso Moreira: violão

Convidado Especial
Robertinho Silva: percussão

Participação Especial
André Dequech: teclados em "Imagens da Lua"
Alberto Chimelli: teclados em "Nova Granada"
Sérgio Silva: percussão em "Nova Granada"

Direção musical e arranjos: Nivaldo Ornelas
Produção executiva: Alcina Meireles
Gravação ao vivo: Alexandre Hang (Rio) e Luís Carioca (São Paulo)
Assistente de produção: Eva Ornelas
Montagem, mixagem e masterização: Estúdio Drum (Rio)
Engenheiro de som: Alexandre Hang
Projeto gráfico e capa: Otávio Bretas e Fernando Fiúza
Fotos: Maristela Martins

O Hino à Bandeira é dedicado ao produtor Márcio Ferreira - Quilombo

RafaZig disse...

Parabéns pelo blog. A música brasileira é de uma riqueza incrível e revela talentos a todo instante. Justamente por essa imensa quantidade de coisas boas muita gente acaba ficando à margem do grande público, e mesmo os que gostam muito de ouvir boa música, não chegam a conhecer o trabalho de muitos artistas. Teu trabalho sem dúvida ajudará muita gente dos dois lados. Parabéns e obrigado por disponibilizar todo seu conhecimento.
Rafael Ziegelmaier

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