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Em 31 de março de 2003, o baixista Liebert Ferreira recebeu Marcelo Fróes e Elias Nogueira em seu apartamento em Copacabana - para uma entrevista de quase três horas sobre os anos EMI dos Fevers. O vocalista Luiz Cláudio, o outro remanescente da formação original, também estava presente. Fróes preparava os encartes para a coleção de CDs dos Fevers, que produzia para a EMI relançar naquele ano.
Como é que surgiu a banda?
Pedrinho e eu estudávamos no Colégio Piedade, que hoje é a Gama Filho. A gente jogava bola e tudo, mas ele já tocava... acordeon. A gente queria, de qualquer maneira, fazer rock... porque na sala só rolava discos de Elvis. Eu tava aprendendo piano, a gente queria tocar de brincadeira - sem a menor intenção de ser músico. Primeiramente criamos os Fenders, depois o nome passou pra Conjunto Young e aí que passou pra Fevers. Nós não tínhamos noção no Brasil, mas fomos descobrir que Fender era uma marca registrada. Dentro de uma kombi, que a gente usava pra ir tocar na Rádio Mauá, o Pedrinho lembrou da música do Elvis - Fever, e aí viramos The Fevers. No meio do grupo tinha um ou dois que iriam depois pro The Pop's. O Cleudir a gente conheceu num clube onde ele tocava piano. Éramos eu, Pedrinho, Cleudir e um baterista no Conjunto Young - tocando no programa Maurício Rabelo, que rolava à tarde na TV Continental. Almir estava cantando lá como calouro e o chamamos. Começou a pintar shows noturnos e nós ainda éramos garotos, mas quando rolou um baile no Marabu foi acertado que tocaríamos num intervalo. O baterista acabou não aparecendo e o baterista da outra banda que se apresentava acabou quebrando o galho. Era o Lécio, mais velho 5 ou 6 anos que a gente, e já era profissional. Nosso baterista acabou saindo e nós fomos atrás de outro, até que num ponto de músicos na Praça Tiradentes a gente reencontrou o Lécio. Mas, como profissional, ele precisava do dinheiro e a gente tinha que bancar. Conseguimos entrar pro programa "Hoje é Dia de Rock", porque o Jair gostou da gente.
E aí rolou o primeiro disco?
Foi interessante, porque nosso primeiro produtor foi o Romeu Nunes - que era diretor na Philips e nos sugeriu a música Vamos Dançar o Letkiss, que era uma música solada. Mas, nesse meio aí, o Carlos Imperial falou que a única forma de alguém conjunto acontecer na época seria cantando... por causa dos Beatles. Aí foi que o Almir, junto com o Pedrinho, acabaram fazendo aquela primeira música Quando o Sol Despertar.
Vocês eram uma banda instrumental?
A gente era basicamente instrumental, a gente tocava muito Ventures, Jordans e a gente gostava muito daquela coisa. Mas, ao mesmo tempo, os Beatles faziam com que o negócio ficasse mais pro lado vocal. Mas, quando a gente começou a se preocupar com o disco, na realidade a nossa idéia era de acompanhar. Tanto é que, antes de rolar esse disco, a gente começou acompanhando... no programa do Jair de Taumaturgo. Nós fomos lá e fizemos um teste com ele, e começamos a trabalhar com ele na Mayrink Veiga.
Vocês só tinham um ano de carreira quando gravaram o primeiro disco, né?
É, a gente praticamente conta o lançamento desse primeiro disco como o nascimento dos Fevers. Mas a nossa preocupação era a de acompanhar outros artistas, tanto que fomos trabalhar no programa "Hoje é Dia de Rock", como banda da casa. Nós todos morávamos na Piedade e, como o Pedrinho trabalhava lá perto da Rádio Mayrink Veiga, o Jair de Taumaturgo dava os discos de quem iria ao programa e nós ensaiávamos. Na hora, era só fazer uma rápida passagem antes.
O que aconteceu com o primeiro compacto?
Jair de Taumaturgo até começou a tocar o Vamos Dançar o Letkiss no "Peça Bis Pelo Telefone", mas o pessoal gostava mais da outra - que era cantada, solada meio Beatles. E foi aí que o Miguel Plopschi entrou no grupo. Ele era um pouco mais velho, um cara mais experiente, vindo da cortina de ferro... Ele já tinha atravessado o mundo. Ele veio pra casa dos tios, justamente com a intenção de ser engenheiro. Ele até se matriculou na UERJ e cursou até o terceiro ano, mas ele tocava sax na orquestra do Steve Bernard, que também era romeno, e - vendo televisão - observou que todas as bandas tinham sax: The Youngsters, Renato e seus Blue Caps, The Jordans, The Clevers etc. O único grupo que não tinha sax eram os Fevers, então o que ele fez? Ele foi pra porta da televisão e chegou lá querendo falar com alguém do conjunto. Foi recebido pelo Emídio, que era secretário do Jair do Taumaturgo e depois trabalhou pro Agnaldo Timóteo. Ele fez a ponte e o apresentou ao Pedrinho, e o Miguel - com um português ainda cheio de sotaque - se ofereceu para tocar sax. Pedrinho topou, mas disse que morávamos lá em Piedade. Miguel morava em Copacabana... mas foi pra lá, de terno e tudo. Na medida em que foi entrando, com sua experiência, a gente logo foi contratado pela TV Rio. Nós começamos a acompanhar no "Rio Hit Parade" e nos programas de César de Alencar e de Paulo Gracindo. Gravamos com o trompetista Julinho do Piston na Odeon e em 1966 acabamos indo pra Odeon...
Sim, mas voltando à Philips, foi depois da entrada do Miguel e da ida pra TV Rio que vocês fizeram o segundo compacto, Wooly Booly?
Sim, esse compacto duplo até estourou. Nessa altura, a gente já fazia baile e era uma loucura. Foi um último trabalho pra Philips, com essa foto da gente na praia de Copacabana. A gente tá usando o primeiro uniforme da banda, feito pela minha mãe.
Essa roupinha rosa?
Essa mesmo, pra você ver que situação! Rosa com preto! E aí, nesse meio, como a gente já acompanhava os artistas, os Golden Boys nos convidaram pra gravar Alguém na Multidão na Odeon. Nós fizemos ao vivo no estúdio, como também fizemos O Bom pro Eduardo Araújo. E aí, como a gente já tava gravando à beça como músico na Odeon, o Miguel falou com o João Araújo (na época da Philips) e ele nos liberou. Somos muito gratos aos Golden Boys, porque eles foram muito importantes nessa nossa passagem. Porque, lá na Philips, nós éramos únicos naquele meio de Bossa Nova - com Elis Regina, Jair Rodrigues etc. Deus é grande e o João Araújo nos liberou, de forma que na Odeon fizemos um compacto com Vai Ser Bom.
E a corrupção de menores?
Aquilo envolveu todo mundo... Nós já estávamos no auge, rolava "A Festa do Bolinha"... e todo mundo foi acusado. Nós fomos proibidos de tocar etc, mas a gente pegou o melhor advogado da época. Não conseguiram provar nada contra a gente, mas por um bom tempo ficamos proibidos pelo Juiz de Menores de atuar no Rio de Janeiro. Aí a gente vivia tocando em Niterói, né? Começamos a tocar lá e aqui os Aranhas começaram a tocar na TV Rio. Depois que isso passou, a gente voltou a tocar aqui - mas aí a gente já estava tocando em São Paulo. Como a gente acompanhava todo mundo, a Odeon quis que a gente fizesse um disco de fantasia para o selo Imperial. Nosso primeiro disco é aquele dos Supersonics, só com músicas de baile. Nós fomos os produtores, gravamos ao vivo no estúdio da Odeon na Av. Rio Branco. A gente fez uma miscelânea em dois dias, tudo solado em guitarra ou sax. Fizemos outro e aí, como a Odeon gostou, acabou saindo como The Fevers mesmo. Estávamos em São Paulo e fomos surpreendidos com a capa nas lojas: "A Juventude Manda". Ficamos animados, embora nem apareçamos na capa. O segundo disco acabou se baseando nesse, mas aí a gente já canta e também já está na capa.
A experiência adquirida gravando como Supersonics e outros nomes, principalmente para aqueles selos pequenos do Rio, foi muito importante, não?
A gente não tinha preocupação de ser artista, bastava um cara ter um selo e nos contratar pra gravar. Tínhamos aquela limitação de não poder tocar no Rio etc, então o trabalho era benvindo. Nós éramos muito requisitados, a gente fazia muito dessas coisas. Há dois ou três discos, cada um por um selo, além daqueles pro selo Imperial. Depois, mais tarde, Miguel e Pedrinho se animaram e começaram a produzir... discos de guitarra, creditado ao Peter; e de teclado, creditado ao Cardinale etc. Tudo feito em dois dias, era tudo gravado ao vivo em dois canais. Não havia sequer mixagem.
E como ficou o segundo disco, gravado como um álbum dos Fevers mesmo?
Ainda tem muita coisa solada, mas já tem músicas cantadas pelo Almir. Já foi um disco mais elaborado, a gente já se preocupava com o repertório... e a gente já aparece na capa. Procuramos um tempão por um lugar pra fazer a foto, mas acabamos fazendo numa das passarelas do Aterro do Flamengo (risos). As versões começaram a rolar devagarinho, como Happy Together, Western Union, She's a Woman etc. O que acontecia? Aqui já tínhamos o Miguel assumindo a direção musical, tanto é que tem música do Cleudir. Rossini Pinto era nosso amigo e nós começamos a trabalhar muito na CBS - acompanhando Os Jovens, Pedro Paulo, Trio Melodia etc. Com Roberto Carlos nós só gravamos duas músicas naquele álbum de 1966, porque o Lécio sofreu um acidente e ele teve que continuar a gravação com os Jet Blacks. Nós gravamos Eu Te Darei o Céu e Estou Apaixonado Por Você, e o resto ele fez com os Jet Blacks. Acho que nem o Lafayette participou daquele disco. A gente começou a trabalhar na CBS porque Renato e seus Blue Caps estavam ficando assoberbados, e também porque a gente gravava muito rápido. Às vezes fazíamos 12 bases num único dia. Leno & Lilian, a gente fez assim.
Vocês e o Blue Caps também gravavam juntos, né?
Sim, fizemos o Big Seven com Renato e Paulo César nas guitarras. Já os Super Quentes éramos nós na base e os Golden Boys nos vocais, além de convidados. Eu queria ouvir isso tudo.
Como foi a repercussão comercial daqueles dois primeiros LPs, "A Juventude Manda"?
Foi muito boa, tanto é que fizeram dois. As contracapas são até parecidas, e eu acho que eles fizeram pra dar seqüência. O primeiro estourou sem a gente saber, porque a gente estava em São Paulo. O segundo foi no mesmo embalo, e foi bom pra gente porque já entram músicas cantadas. No terceiro o Miguel, que era muito interessado e estava sempre andando pela noite, teve acesso a um repertório mais quente ainda.
Como estavam vocês?
Ele morava na zona sul, mas a gente continuava em Piedade. Nós ganhávamos e vivíamos muito bem desde a época em que acompanhávamos todo mundo. A gente acompanhou Sérgio Murilo e Rosemary na RCA, a gente acompanhou todo mundo que você puder imaginar. Paulo Sérgio, Jerry Adriani e Wanderley Cardoso, também. Isso tudo nos ajudou. Hoje em dia não, a gente depende de show, mas na época a gente trabalhava direto. Nossa Senhora, de segunda a segunda - em estúdios, nos programas, nos bailes... e ainda fazíamos o Chacrinha toda quarta-feira, olha só!
E aí vocês chegaram ao terceiro LP.
A capa tem uma foto da gente num baile, mas foi gravado em estúdio... ao vivo no estúdio... Ao vivo mesmo foi "O Máximo em Festa", que foi um fracasso absoluto! (rindo) A gente ficou desesperado... porque a gente tinha começado a levar a carreira a sério. Foi a partir desse disco que o Miguel assumiu a produção... e aí, depois desse, todos estouraram sem parar. O "Volume 3" ainda tinha músicas soladas, mas também versões do Rossini Pinto. Ele fazia todas as nossas versões, eu acho importante valorizá-lo... porque pra nós ele foi um pai. Ele era um engenheiro agrônomo, mas um DJ super profissional... antes de Big Boy surgir.
Já Cansei fez muito sucesso e você fizeram Vou Me Vingar na mesma praia.
Sim, com a mesma célula... mas não aconteceu nada... porque Já Cansei continuava fazendo sucesso!
Por que "O Máximo em Festa" foi um fracasso?
Eu acho o seguinte. Como sempre, a gente tinha feito o "Volume 3", repetindo a fórmula de sucesso dos primeiros. E aí, passados dois ou três meses, pra variar pediram um disco tipo Imperial. Pedrinho sugeriu que fizéssemos algo no estúdio, todo solado etc...
Mas vocês já faziam discos dos Supersonics...
Sim, mas paralelamente... e não como Fevers. Na verdade, a gente ia gravando e a gravadora é que se animava com o material, decidindo o que seria lançado pelos Fevers e o que sairia sob pseudônimo.
Vocês não tinham poder de decisão?
- Não é bem isso. Eles pediam um disco assim ou assado, e as idéias normalmente davam certo. Fizemos esse disco de pout porri, estilo "faixa corrida", e chamamos uns amigos para um coquetel na Odeon. Era um happening e botamos o playback pra rodar, gravando a animação e as pessoas cantando por cima. A Odeon gostou e resolveu lançar, afinal a gente fazia muito baile. Era um disco ao vivo fake. Mas não aconteceu.
Não tinha nenhuma música de sucesso...
Foi aí que veio a grande responsabilidade do disco de '69... "O Máximo em Festa" não dava pra trabalhar mesmo, era uma miscelêna, não tinha nenhuma faixa isolada. Foi aí que, correndo atrás mais uma vez, o Miguel trouxe algo novo pros Fevers. Através do Big Boy, ele trouxe a versão de Agora Eu Sei... Aí arrebentou mesmo, porque com o Já Cansei já arrebentara um pouco. Mas, no intervalo, a gente havia descoberto também o Luiz Cláudio... cuja estréia se deu no álbum de 1969.
Como se deu a entrada do Luiz Cláudio?
Ele entrou em 1969, quando cantar em inglês nos bailes tava começando a ficar forte. Os Analfabitles estavam estourando e ele vinha de bandas amadoras - Os Beatos (67) e Os Jóias (68), com os quais eu abri pros Fevers numa ocasião e acabei os conhecendo. Uns meses depois, Pedrinho o chamou e, a partir de 1969, nós passamos a ter uma ou duas músicas cantadas em inglês, sempre cantadas por ele - que também cantava em português. Nos discos da Década Explosiva ele também cantaria muito em inglês, além de em outros projetos da Odeon. Fora os sucessos da época, que eram importantes por causa dos bailes, a gente também começou a ter sempre uma ou duas músicas inéditas pra trabalhar em rádio. Foram boas sacações do Miguel e o LP estourou com Já Cansei, apesar do nome meio polêmico: "Os Reis do Baile". A gente ficou meio grilado... porque o nome limitava muito, caracterizando muito a banda como conjunto de baile. Até hoje esse nome é fortíssimo, a gente ficou muito grilado mas hoje é muito importante quando a gente faz turnê no nordeste. É uma pena que a gente não tenha filmado um baile daquela época. Uma vez nós fomos tocar em Volta Redonda e os bombeiros tiveram que jogar água nas pessoas presentes. Disco nunca foi o mais importante pra gente, até porque na época a gente vendeu os direitos pra poder comprar apartamento e hoje não recebe royalties. A gente não imaginava que fosse durar até hoje, mas foi bom do mesmo jeito.
Chegamos à década de 70.
A partir daí foi só pancada, só sucesso, um atrás do outro. No disco de 1970 a nossa cara já está definida, e valeu daí pra frente. Foi o nosso marco, o nosso divisor de águas. Ele tem a fórmula definitiva, Você Morreu Pra Mim fez sucesso na época em que o Credence Clearwater estava estourado. Candida foi um sucesso enorme, nós pegamos o original dessa música na casa do Ademir Lemos em Ipanema. Reflections Of My Life entrou em inglês mesmo e o Luiz cantou. Miguel também foi atrás de versões em castelhano.
A música internacional também começou a fornecer material que ficava perfeito nos bailes, né? Os Bee Gees abriram caminho com I Started a Joke.
Sim, também gravamos Bridge Over Troubled Water.
Vocês tinham rápido acesso a discos importados, enquanto ao mesmo tempo as gravadoras demoravam a lançá-los por aqui. Isso facilitava muito as coisas.
Ah, mas já era assim desde os anos 60. Renato e seus Blue Caps estouraram Menina Linda por conta disso. No nosso caso, o Miguel comprava a Billboard e os DJs amigos traziam novidades. Em 1970, Candida fez o LP estourar nacionalmente... e aí nosso sucesso foi crescente. Mar de Rosas já foi a consagração total e Vem Me Ajudar veio a seguir. Durante dez anos, até o início dos anos 80, 90% do repertório dos Fevers em bailes quem segurava era o Luiz Cláudio - cantando sucessos em inglês, enquanto no rádio tocavam os sucessos em português. Pra cantar algo em português no baile, tinha que ser algo muito forte. Hoje em dia a gente faz show com nosso próprio repertório, mas na época o baile tinha que ter os sucessos internacionais. Naquela época, a gente tinha que tomar um cuidado danado com o repertório. Uma vez, cantamos Roberto Carlos e Noriel Villela e tomamos vaia. Pra você ver, como a coisa mudou. Nós fomos passando de geração pra geração, nós somos uns felizardos.
Vocês fizeram caminho inverso, porque a maior parte das bandas de sucesso nos anos 60 começaram a ter problemas nos anos 70, mas você começaram discretamente nos anos 60 e fizeram mais e mais sucesso nos anos 70 e 80.
É gozado, até Renato e seus Blue Caps tiveram que vir pro mercado do baile. Nós atravessamos os anos 70 sob bombardeio cerrado, porque os bailes também começaram a entrar em crise. A vantagem é que nossas músicas tocavam muito em rádio. Nosso disco era muito estourado no Chacrinha, a gente estava na TV toda hora. Continuamos fazendo alguns acompanhamentos, além de discos sob pseudônimo, mas a prioridade era nossa carreira. Mas fizemos acompanhamento para a Orquestra Som Bateau, que tinha como curiosidade duas baterias simultâneas: o Lécio e o Paulinho Braga. Evaldo Braga só gravava conosco, no dia em que a gente não pudesse gravar ele não gravava. Todos os discos dele são conosco nas bases, e com o Maestro Peruzzi nos arranjos de orquestra. Paulo Diniz também, Marcus Pitter, Evinha... Cláudia cantando Jesus Cristo, somos nós, como também somos nós tocando samba para Luiz Ayrão em Porta Aberta. Na Odeon a gente gravava tudo: Eduardo Araújo, Sérgio Reis, Deny & Dino, Silvinha... Com Erasmo, nós fizemos muita coisa também. Nós gravamos um LP inteiro do Jorge Ben. Mas, enfim...
Chegamos a 1972.
Sim, estávamos tão bem que a Odeon nos presenteou com seis amplificadores Marshall! Mas, como o Miguel conseguira um patrocínio da Giannini, nós pousamos pra foto da capa do "A Explosão Musical dos Fevers" com amplificadores nacionais... (risos) Foram os primeiros amplificadores da Giannini, foi Miguel quem inventou o endorsement no Brasil. Ele conseguia fazer com que ganhássemos tudo. Na época, disseram-nos que vendeu cerca de 500 mil discos...
E aí, apartamento novo pra todo mundo?
Não, na época ninguém entendia nada. Foi o disco que teve mais sucessos: Vem Me Ajudar, Natalie, Sou Feliz, De Que Vale Tanto Amor e Ninguém Vive Sem Amor. Esse disco foi uma porrada.
Vocês já entravam em estúdio sabendo o repertório?
Sim, depois do "Máximo em Festa" o Miguel cuidava melhor isso. Ele só foi ter crédito de produtor a partir de 1972, no LP que tem Deus e aquela versão para Tomorrow, de Paul McCartney. A capa foi novamente feita no Parque Lage, como aquela de 1969. Já não tem mais música instrumental, era tudo cantado - em português ou em inglês. E aí, no disco seguinte, de 1973, fizemos uma foto no Museu de Arte Moderna aqui no Rio e foi realizado um trabalho de arte. É um disco muito interessante, com Alguém em Meu Caminho, parceria do Pedrinho e do Miguel. As rádios não queriam tocar, então a gente foi buscar compositores de prestígio. Zé Rodrix fez Gás Neon pra gente... e a Rádio Mundial começou a tocar. A gente tava precisando do prestígio, para atingir algo além das camadas populares. Precisamos correr atrás, pois a Mundial era a FM da época. Pra nós, foi uma surpresa ganhar uma música do Zé Rodrix, que na época fazia muito sucesso com Sá e Guarabyra. Rock da Pesada também era deles, na verdade. E, um dos maiores sucessos nossos, também está nesse discos: Hey Girl, que nós descobrimos no Assirius, no subsolo do Teatro Municipal, ali perto do estúdio da Odeon. Eu me lembro que tocou no som ambiente, a gente nem sabia que era o Lee Jackson, banda de São Paulo. Nós tivemos que "brigar", porque na mesma época que o Rossini fez nossa versão os Brazilian Boys fez outra versão em português. Mas não teve jeito, a versão do Rossini Pinto prevaleceu. Também tinha a versão de Don't Say Goodbye, que estava estourada na trilha de uma novela com o Chrystian cantando.
O disco de 1974 foi o primeiro a ser vertido para o castelhano, pra ser trabalhado no mercado latino.
Mas sim, a versão em espanhol foi uma coletânea dos grandes sucessos... com os vocais regravados. O disco seguinte, de 1975, foi mais interessante ainda - porque, como a gente estava estourado no nordeste, teve nossa primeira gravação de um forró... Foi um sucesso fantástico, a faixa-título O Sol Nasce Para Todos também estourou, como também estourou Você Zombou de Mim. Como havia dado certo o lance do Zé Rodrix, para este disco Luiz Carlos Sá e Celso Blues Boy fizeram uma música pra gente. Rodrix também fez mais uma, em parceria com Maxine. Na verdade, a gente já tinha descoberto a fórmula com Miguel. E aí, o disco de 1976, também aconteceu muito no nordeste - por conta de A Dança do Mexe Mexe. Havia também Sou Assim, versão do sucesso de Adamo e uma nova versão, mais atual, de There's a Kind Of Hush, agora mais em cima dos Carpenters. Paloma Blanca também fez bastante sucesso no Nordeste e nesse disco nós também gravamos Gata, aquela versão de Wild Thing que os Brazilian Bitles haviam gravado dez anos antes.
O disco de 1976 tem uma capa bastante curiosa.
Essa é demais, pra mim essa capa foi uma grande sacada do Nogushi. Ele conseguiu pegar um pedaço da cara de cada um e montar essa cara estranha, embora você possa virar e ver cada um de nós. Esse disco já é importante porque estamos em oito, com a entrada do Augusto César, o famoso Carneirinho. Foi nossa fase de transição, porque o Pedrinho fora contratado pra ser diretor artístico da Polydor - onde estourou Peninha, Sidney Magal, Super Bacana e outros. Ele participa do disco, mas começou a não ir nos shows e o Augusto César entrou. Os dois tocam juntos no disco, solam várias vezes juntos. Na verdade, ele já vinha tocando conosco desde a turnê do disco anterior... e foi uma idéia boa para aquela transição. Nós o conhecíamos do conjunto do Agostinho Silva, que tocava no programa do Haroldo de Andrade. Pedrinho já o conhecia de lá e o colocava pra tocar em sessões, então ele acabou entrando pra banda. Daí pra frente ele começou a mostrar o talento que tinha, não só como guitarrista mas também como compositor - fazendo, dentre outras coisas, Se Você Disser Que Sim com Paulo Coelho. Marcas do Que Se Foi fez bastante sucesso, era um jingle de TV do Zurana... Os Incríveis também gravaram. Mãe foi muito importante e até hoje a gente tem que ensaiar quando vai fazer show no Nordeste.
Onde Estão Seus Olhos Negros fez muito sucesso no álbum de 1978.
Foi muito importante, porque foi nosso primeiro disco de platina em Portugal. A música era espanhola e nós a estouramos como fado em Portugal, embora no Nordeste também tenha feito sucesso. Pra Cima, Pra Baixo também tocou muito.
Os discos saíam em Portugal?
Sim, saíam... como também saem coletâneas até hoje. Eu tenho que ficar de olho.
Vocês caíram no álbum de 1979, "The Fevers Disco Club".
Sim, com uma participação de Rosana, ainda em início de carreira... e com mais uma do Paulo Coelho, Rock'n'roll no Banheiro. Com esse disco, nosso show mudou bastante... e nosso baile começou a ser mais curto, mas com go go girls estilo chacrete. Ao invés de ser um bailão, era um mini-baile. Havia um DJ e a gente cantava no final. Nossa versão de Y.M.C.A. tocou muito.
E aí vocês chegaram à década de 80.
Sim, e esse disco marcou o fim de nossa primeira fase... pois foi o último com o Almir. Ele é o encerramento da formação original, porque - pacificamente - o Almir quis seguir uma carreira solo. Esse disco é muito importante, porque é o que tem Gengis Khan... um sucesso internacional marcante em nossa carreira, né... A versão original foi gravada em inglês por um grupo de São Paulo, mas a gente fez a versão em português. Também tem música de Marcos e Paulo Sérgio Valle, mas a questão é que nós precisávamos entrar na programação das FMs. Na época, a rádio quente aqui era a Transamérica... e o disco é mais importante por Sangrando, do Gonzaguinha, que na realidade a gente gravou primeiro. A gente pediu, ele fez pra gente com o maior prazer, a gente gravou... e depois é que ele colocou no disco dele. Começou a tocar, mas tocava pouco... e aí a música acabou estourando depois com Simone, nossa colega de gravadora. Mas o original era nosso, e só foi estourar na terceira versão. Os últimos discos vinham bem de vendagem, tocávamos bem no Nordeste. Nossa média de vendagem era de 100, 150 mil discos.
E depois da saída do Almir?
Entrou o Michael Sullivan, ex-Selvagens, ex-Blue Caps, ex-tudo.
Quem o chamou?
Acho que foi o Miguel. Ele tinha estourado sozinho em 1976,a cantando My Life na trilha de "O Casarão", e depois havia feito aquele LP "Sou Brasileiro". Tinha tudo a ver e acho que o convite foi benvindo, porque foi feito num domingo e na terça ele já estava ensaiando conosco. Ele foi um companheiro muito legal e a entrada dele e o disco de 81 marcam a nova fase da banda. Foi uma fase de transição, vindo de um disco estourado. Há uma boa participação do Robertinho de Recife, além de alguns duetos do Sullivan com o Almir - pra mostrar que não havia nenhum problema. Há uma outra música do Gonzaguinha, que fez especialmente pra gente.
Nelson Motta também fez música pra vocês, assinando Elas Por Elas no disco "Fevers 82".
Sim, é verdade... e este disco também tem o Lincoln Olivetti. Nelson Motta foi importante nesse momento, o Miguel sempre tinha alguma coisa pra tirar da cartola. De tempos em tempos, saía um coelho da cartola. A música se chamava Coisas da Vida, já estava gravada e tal, mas mudou pra Elas Por Elas quando veio a letra do Nelson Motta. Mas a capa também foi interessante, porque alguém arranjou essa asa delta e nós fizemos a foto no pátio da EMI-Odeon, ali na Rua Mena Barreto. O fotógrafo deitou no chão e ficou perfeita...
Elas Por Elas foi o primeiro tema de abertura que vocês fizeram pra Globo...
Sim, e uma novela de sucesso.
E quanto ao disco de Carnaval?
Ah, esse disco nós fizemos de brincadeira... foi um projeto especial, não tem nada a ver com a nossa carreira. Gravamos com o Lincoln Olivetti, não faz parte da nossa seqüência discográfica... e não aconteceu nada... (risos) Fizemos alguns playbacks no programa do Chacrinha.
Então a seqüência normal pro disco de 82 é o que foi lançado um ano depois, né?
Sim, e é especial porque nós fizemos dois temas de novela seguidos. Ele já tinha 20 mil cópias prensadas, que foram quebradas para que fosse relançado com Guerra dos Sexos. Nelson Motta fez outra letra e temos também uma versão que o Evandro Mesquita fez para o rock do Kiss, naquele ano em que eles estiveram aqui no Maracanã, além de uma parceria do Renato Ladeira, na época com o Herva Doce, com o cineasta Sérgio Rezende. Há a participação de Tim Maia, que na época estava meio parado, em Frente a Frente -que ia ser tema de final de ano na Rádio Bandeirantes de São Paulo, mas aí o Tim estourou com Me Dê Motivos - o primeiro grande sucesso da dupla Sullivan & Massadas. Fizemos a foto da capa na boate New Girau, na Rua Siqueira Campos, perto da Av. Atlântica.
E quanto ao último disco pra EMI, de 1984?
Fizemos meio que pra cumprir contrato, porque o Miguel estava saindo da EMI ... pra assumir a RCA. Logo em seguida nós também fomos pra lá. Não aconteceu praticamente nada. Depois que o Miguel foi pra RCA, eu fiquei como gerente artístico da EMI e cuidei de artistas populares - já que o pessoal de lá não gostava de artistas populares. Eu cuidava de José Augusto, Fernando Mendes, Luiz Ayrão, Agnaldo Timóteo, Reginaldo Rossi, Odair José...
Fora aqueles discos de Década Explosiva, né?
Sim, 80% daquele repertório foi cantado pelo Luiz Cláudio. Algumas músicas têm Rosana ou Walter Montezuma ou Oséas. Mesmo que não fosse o Luiz cantando, estávamos os Fevers tocando na base.
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The Fevers were one of the longest-lived of the 1960s Jovem Guarda teen-oriented Brazilian rock bands. The band formed in the mid-'60s and has held together in one form or another over the next four decades. While there are plenty of fun guilty pleasures to be had in the group's repertoire, much of what they recorded is pretty drekky. Like many jovem guarda acts, The Fevers covered numerous American and European rock and pop hits, including styles that spanned the teen pop of the early 'Sixties, psychedelic rock, early 'Seventies "sunshine" pop, AOR and disco. They aped the styles well and also recycled popular melodies into "original" songs of their own.
The band also recorded under the pseudonym "The Supersonics," and recorded prolifically as the backup band for a number of jovem guarda and tropicalia stars. Some of it's fun, but you may have to dig pretty deep to get to the good stuff.
6 comentários:
The Fevers - "Instrumentais '60s" (2008)
1. Creme Batido (Whipped Cream)
(Naomi Neville)
2. Let Kiss
(R. Lehtinen)
3. Juanita Banana
(Tash Howard / Murray Kenton)
4. Hang On Sloopy
(Bert Russell / Wes Farrell)
5. Boa Noite Meu Bem (Goodnight Irene)
(H. Ledbetter / J. Lomax)
6. O Bobo
(Paulo Brunner / Ivanildo Teixeira)
7. O Pica Pau
(Renato Barros / Lilian Knapp)
8. Forget Him
(M. Anthony)
9. Vou Dizer Que Não
(Cleudir Borges)
10. Girl
(Lennon / McCartney)
11. O Touro Solitário (The Lonely Bull)
(Sol Lake)
12. Batman
(Neal Hefti)
13. Só Vou Gostar de Quem Gosta de Mim
(Rossini Pinto)
14. Hi-lili Hi-lo
(Kaper / Deutsch)
15. Music To Watch Girls By
(Sid Ramin / Tony Velona)
16. Last Train To Clarksville
(Tommy Boyce / Bobby Hart)
17. Gatinha Manhosa
(Erasmo Carlos / Roberto Carlos)
18. Judy in Disguise (With Glasses)
(John Fred / Abe Bernard)
19. Vesti Azul
(Nonato Buzar)
20. Parabéns Querida
(Roberto Corrêa / Sylvio Son)
21. Você Não Serve Pra Mim
(Renato Barros)
22. Israel
(Bruno Zambrini / Ruggero Cini / Francesco Migliacci)
23. Love Is Blue (L'Amour Est Bleu)
(A. Popp / P. Cour)
24. The Ballad of Bonnie & Clyde
(M. Murray / P. Callander)
25. A Time For Us (tema de amor de "Romeo e Julieta")
(Nino Rota / Larry Kusik / Eddie Snyder)
1:
Julinho e seu Piston com The Fevers (Compacto)
(Odeon 7B-141, fevereiro de 1966)
Julinho: piston
Almir Bezerra: guitarra
Cleudir Borges: teclados
Lécio do Nascimento: bateria
Liebert Ferreira: baixo
Miguel Plopschi: saxofone
Pedro da Luz: guitarra
2:
The Supersonics (Fevers sob pseudônimo) - "Mandando Brasa!" (LP)
(Imperial SIMP 30.081, junho de 1966)
Almir Bezerra: guitarra
Cleudir Borges: teclados
Lécio do Nascimento: bateria
Liebert Ferreira: baixo
Miguel Plopschi: saxofone
Pedro da Luz: guitarra
3 - 12:
The Fevers - "A Juventude Manda..." (LP)
(London LLB-1016, novembro de 1966)
Almir Bezerra: guitarra
Cleudir Borges: teclados
Lécio do Nascimento: bateria
Liebert Ferreira: baixo
Miguel Plopschi: saxofone
Pedro da Luz: guitarra
gravado no estúdio Odeon (RJ), entre 26 e 28 de setembro de 1966
direção artística: Milton Miranda
13 - 17:
The Fevers - "A Juventude Manda... Volume 2" (LP)
(London LLB-1023, julho de 1967)
Almir Bezerra: guitarra
Cleudir Borges: teclados
Lécio do Nascimento: bateria
Liebert Ferreira: baixo
Miguel Plopschi: saxofone
Pedro da Luz: guitarra
gravado no estúdio Odeon (RJ), entre 31 de maio e 1 de junho de 1967, exceto "Gatinha Manhosa", gravada em 31 de março de 1967
direção artística: Milton Miranda
18 - 24:
The Fevers - "The Fevers" (LP)
(London LLB-1038, maio de 1968)
Almir Bezerra: guitarra
Cleudir Borges: teclados
Lécio do Nascimento: bateria
Liebert Ferreira: baixo
Miguel Plopschi: saxofone
Pedro da Luz: guitarra
gravado no estúdio Odeon (RJ), em 15 de abril de 1968
direção artística: Milton Miranda
25:
The Fevers - "Os Reis do Baile" (LP)
(London LLB-1057, outubro de 1969)
Almir Bezerra: guitarra
Cleudir Borges: teclados
Lécio do Nascimento: bateria
Liebert Ferreira: baixo
Miguel Plopschi: saxofone
Pedro da Luz: guitarra
gravado no estúdio Odeon (RJ), em 9 de setembro de 1969
direção artística: Milton Miranda
O Link tá bichado parceiro!
Arruma ae por favor!!!!!!
Valeu por avisar. Vou consertar até semana que vem.
abs
esse blog e bom demais so acho musica que achava que nunca mais ia ouvir fico muito agradecido
Gostei muito do blog. vc tem o disco "O maximo em festa" dos Fevers?
O link continua brocado...
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