28 maio 2006

Sivuca & Rosinha de Valença - Gravado ao Vivo (1977)

Capa do disco
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Embora já tivesse regressado ao Brasil há alguns meses, realizando uma temporada no Teatro do Hotel Nacional, Sivuca elegeu outro evento para celebrar “oficialmente” sua volta definitiva ao país: os shows em dupla com Rosinha de Valença no Teatro João Caetano, de 9 a 13 de maio de 1977. SivucaO espetáculo de cerca de duas horas e 27 músicas, idealizado e roteirizado pelo saudoso Albino Pinheiro, para o Projeto Seis e Meia, superlotou o Teatro durante uma semana. Filas homéricas formavam-se desde as primeiras horas da tarde, e muitos fãs, incluindo este que vos escreve, adquiriram ingressos para todas as noites. Gravado ao vivo em um equipamento de apenas quatro canais, o evento foi condensado em um LP (de 8 faixas e 37 minutos) coordenado por Sergio Cabral para a RCA.

Relançado agora, pela primeira vez, este álbum simplesmente fenomenal capta algumas das mais expressivas performances daquele encontro entre dois dos maiores músicos brasileiros de todos os tempos. Por questões burocráticas – Rosinha de Valença era contratada exclusiva da EMI/Odeon -, Sivuca ficou com o maior número de faixas. Cinco, no total. Em duas outras (“Asa Branca” e “Lamento”), divide o spot com Rosinha, que aparece como solista principal em apenas uma faixa (“Tema do Boneco de Palha”), ainda assim com Sivuca no violão de base. No apoio, um timaço recrutado para tal efeméride: Luiz Carlos dos Santos (baterista original da Banda Black Rio, participante do “Feel No Fret” da Average White Band), Jamil Joanes (baixo elétrico, outro da Black Rio), Darcy (percussão) e Raul Mascarenhas (saxofone tenor e flauta). Todos, para “agravar” a situação, super-entrosados apesar do pouco tempo de ensaio, e tocando com uma vibração contagiante.

Vindo de décadas de trabalho na Europa e nos Estados Unidos (ao lado de Miriam Makeba, Harry Belafonte, Airto Moreira, Luiz Henrique, Dom Um Romão e Oscar Brown, Jr., além da notável carreira como líder), Severino Dias de Oliveira - paraibano de Itabaiana, nascido em 26 de maio de 1930 - domina todas as faixas que formavam o Lado A do LP original. A começar por uma inspiradíssima nova composição, “Homenagem a Velha Guarda”, que pouco depois seria gravada por Clara Nunes , após receber letra de Paulo César Pinheiro, no disco “As Forças da Natureza”.

A segunda faixa, divida em duas performances emocionantes, documenta o grande momento do concerto. Primeiro, sozinho na sanfona, o gênio mergulha em virtuosística execução da valsa “Quando Me Lembro”, de Luperce Miranda, não sem antes avisar à platéia que “na última parte, ele (Luperce) tentava imitar dois bandolins num só; como não temos bandolins aqui, vou tentar imitar os dois bandolins na sanfona”. Depois, realiza uma série de variações sobre o famoso frevo “Vassourinhas”, satirizando como seriam as interpretações na China, nos países árabes, na antiga União Soviética, na Argentina, na Escócia (imitando, com perfeição, uma gaita de fole), até desembarcar em Recife, “numa terça-feira de Carnaval, na Avenida Guararapes”, realizando crepitante versão destacando o famoso vocal em uníssono com a sanfona, uma de suas marcas-registradas.

Previamente gravada nos EUA pela cantora sul-africana Letta Mbulu, “Reunião de Tristeza”, letra e música de Sivuca, número-solo de violão e voz, retrata, em seu lirismo pungente, o sentimento do compositor diante da morte de uma de suas irmãs. “Ela faleceu em 1935, aos nove anos de idade. Aquele momento de tristeza ficou no meu coração por anos a fio, até que um dia, em Ottawa, no Canadá, mais de trinta anos depois, a dor se transmutou em música”, relembra Sivuca. Na sequência, transforma o show em baile irresistível através do forró “Feira de Mangaio”, parceria com a esposa Glorinha Gadelha posteriormente incorporada ao repertório de Clara Nunes no LP “Esperança”, de 1979. Ainda ao violão, mas com apoio do conjunto, destacando solo do tenorista Raul Mascarenhas (então marido de Fafá de Belém), revisita um de seus maiores sucessos, “Adeus, Maria Fulô”, parceria com Humberto Teixeira e tema de abertura de seus shows nos Estados Unidos – inclusive na obra-prima “Sivuca Live at the Village Gate” (75).

Rosinha de ValençaNa faixa que abria o Lado B, finalmente Sivuca & Rosinha atuam juntos, descendo o sarrafo em jazzística versão do clássico “Asa Branca”, gravado anteriormente por Rosinha, em 71, no disco “Um Violão Em Primeiro Plano”. Sivuca pilota um órgão Yamaha no qual faz misérias, produzindo distorções e efeitos (típicos dos sintetizadores Arp e Moog) durante solo de intensa criatividade, sobre viradas endiabradas do batera Luiz Carlos. Rosinha também mostra uma linguagem de improviso extremamente original e brasileira, algo infelizmente não assimilado pelas novas gerações de nossos violonistas, que insistem em ignorar as obras de outros mestres como Laurindo Almeida, Luiz Bonfá e Bola Sete. Em duo de violões, novamente abrindo espaço para improvisos notáveis, Rosinha & Sivuca levam o público ao delírio em “Lamento”, do mestre Pixinguinha.

Na faixa final, Maria Rosa Canelas (nascida em Valença, em 30 de julho de 1941, levada para o Rio pelo baterista Dom Um Romão), barbariza ao relembrar “Tema do Boneco de Palha”. Consegue, graças a uma execução swingadíssima, além de um show à parte do baixista Jamil Joanes, até mesmo superar o registro original de sua estréia para o selo Elenco em 1963, o LP “Apresentando Rosinha de Valença”, que estabeleceu o nome artístico dado por Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preto, que a apresentava como “a menina que toca por uma cidade inteira”. SivucaMarco inicial de uma brilhante trajetória no Brasil e no exterior, onde chegou a integrar o grupo Brasil 65, de Sergio Mendes. De volta ao Rio, liderava seus próprios conjuntos, volta e meia atuando com Maria Bethânia e Martinho da Vila, até sofrer, há dez anos, um derrame cerebral que a deixou até hoje em estado vegetativo.

Além das músicas escolhidas para o álbum, figuravam também no repertório do show: Primeiro Amor, Tico Tico no Fubá, Pedacinho do Céu, Consolação, Caboclo Ubiratan, De Amor Eu Morrerei, Tristeza Em Mim, Berimbau, Com Quem Roupa, After Sunrise, Brasileirinho, Como é Grande e Bonita A Natureza, Testamento de Sambista, Serena no Mar, Saudades do Matão, Remelexo, Usina de Prata e Chuá Chuá.

Contemplar as arrebatadoras interpretações de Sivuca & Rosinha de Valença neste disco ao vivo, com todos os músicos tocando com emoção à flor da pele, nos possibilita sentir a mesma atmosfera mágica que inebriou a platéia. E representa também a oportunidade de repensar equivocados conceitos como a ridícula divisão entre música “cantada” e “instrumental”, apregoada por preconceituosos desprovidos de inteligência e bom-senso. Um entrave a mais que os terroristas xiitas da MPB colocam no caminho evolutivo da nossa música.

Arnaldo DeSouteiro - extraído do site Jazz Station Productions

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Rosinha de ValençaThere are certain types of music that just wouldn't be the same without the accordion. One is Louisiana zydeco. Another is norteño/Tex-Mex, a Mexican-American form that combines Mexican ranchera with the German polka beat. And in Brazil, the accordion has played a prominent role in baião, a style that comes from the northeastern part of the country. If the seminal Luiz Gonzaga was the King of Baião, Sivuca is certainly among the people who belongs in the royal palace. The singer/accordion virtuoso doesn't play baião exclusively — he can handle anything from choro to bossa nova — but baião is certainly one of his strong points. And he shows his versatility on Gravado ao Vivo, which offers a diverse program of baião, choro, and samba. This Brazilian reissue focuses on a 1977 concert at Teatro João Caetano in Rio de Janeiro, where Sivuca shared the stage and the spotlight with guitarist Rosinha de Valença. The performances on this album range from instrumentals (which include Pixinguinha's "Lamento" and the Gonzaga standard "Asa Branca") to vocal offerings such as the melancholy "Reunião de Tristeza" (a Sivuca original) and the well-known "Adeus, Maria Fulô." While "Tema do Boneco de Palha" becomes a showcase for de Valença's acoustic guitar, "Asa Branca" is a perfect example of accordion-powered baião. It should be noted that Sivuca and de Valença don't play together on all of the selections — they share the spotlight, and only on "Asa Branca" and "Lamento" do they actually play together. But whether Sivuca or de Valença (or both) is enjoying the spotlight, Gravado ao Vivo is a pleasing document of that 1977 concert in Rio.

by Alex Henderson - extracted from All Music

4 comentários:

Anônimo disse...

These are Great to hear, Thanks & Cheers from the u s of a!

Unknown disse...

Infelizmente o link para baixar o disco não está funcionando. Você teria outro link?

mvcosta disse...

Jander,
valeu por aviso. Vou subir novamente e avisarei qd estiver disponível.
abs

Unknown disse...

Como consigo um link atualizado para este disco??

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