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No mesmo período, vários expoentes do mesmo instrumento e contemporâneos de Coltrane, como Clifford Jordan, Sam Rivers e Charlie House, não perseguiam a técnica enquanto foco central e sim como uma ferramenta para construir e desconstruir se necessário. Esse foi o ponto de partida musical e filosófico de uma veia importante do jazz pouco conhecida, o post-bop. Nela cabia o afro-jazz engajado do selo independente dos anos 70 nova-iorquino Strata-East - com Stanley Cowell, Charles Tolliver, Shamek Farrah, Bill Lee (o pai do cineasta Spike Lee, quer dizer... O Spike é que...). Na mesma corrente também atuavam o selo californiano Black Jazz - com Doug Carn, Henry Franklyn e Rudolph Johnson - e o Tribe, formado por músicos de Detroit - como Wendell Harrison e Phil Ranelin -, que participavam das gravações dos hits da Motown e se organizaram para um selo que não ''sugerisse'' a enésima rearmonização de Stella by starlight, mas um trabalho de assinatura, assim como vinha desenvolvendo o mentor espiritual dessa geração, Coltrane. Isso sem falar em John Handy, Randy Weston, Arthur Blythe, Anthony Braxton, Sonelius Smith e milhares de outros.
Leitura moderna - Na música brasileira, esse senso de improvisação e composição aparece, entre outros nomes, nos discos do nosso spiritual jazzy Victor Assis Brasil, passando por Nivaldo Ornellas, no final antológico de Beijo partido, do disco Minas, de Milton Nascimento - que tem uma das jóias do compositor, a instrumental-vocal Leila, com Edison Machado dando uma leitura moderna que Elvin Jones, baterista do quarteto de Coltrane, também daria -, até os paulistanos do Pé Ante Pé, em 1982, com um dos mais interessantes LPs de jazz lançados aqui, o não disponível em CD Imagens do inconsciente. A partir desse momento entramos na era ''Eletric Band'' ou ''Plastic Band' ou até ''Elastic Band'', onde o tecnicismo é a maior virtude e a influência asséptica da Berkley School of Music - que cada vez mais se mostrou indispensável - e os vários cursinhos que os americanos inventaram para transformar tudo e todos em jazzistas de canudinho na mão, prontos para integrar a última banda de Chick Corea, se tornaram fundamentais para a estética atual do jazz. É óbvio que o talento se beneficia da técnica, de Moacir Santos a Charles Mingus, só para citar dois gênios que podem realmente endossar esse famoso jargão universitário, mas o que se tem ouvido nos últimos anos é uma euforia olímpica onde o grande trunfo é uma ginástica musical de vencedores e perdedores. Fui ao cinema assistir a um documentário que me deu angústia imaginar que, para as ''cabeças incríveis'' (seriam os antigos formadores de opinião?), a única saída de inventividade na música eram dois toca-discos, um DJ arranhando os discos às vezes interessante, percussivo, original, mas...Calma, minha gente... A saída mesmo foi a livraria em frente, onde, completamente atordoado, tenho a felicidade de me deparar de cara com a cura: o CD O sopro do espírito, do trompetista Barrosinho.
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A mão do compositor aqui transborda coerência e sabedoria, da primeira à última faixa não tem assunto jogado fora. Unção, o tema abre-alas do CD, com a tinta polirrítmica com que Barrosinho criou o Maracatamba - simbiose de samba, soul-jazz, afro 6/8 - e uma clave latina sutil que o baterista Jacutinga e os percussionistas Darcy da Serrinha e Dom Gravata pincelam no disco inteiro, me deixou de coração na boca logo. E o improviso do trompete já vem rasgando a emoção e imprimindo a carteira do fã-clube do mestre sem esquecer do solo melódico a la Lennie Tristano do pianista Tomas Improta. A seguinte, Cidade de Palha, parece que foi moldada para o estilo funky-brasileiro do baixista Carlos Pontual, que também tem grande momento no tema 6/8 Rio de jauleira. Os dias de chuva de qualquer um que tenha um coração no peito nunca mais serão os mesmos depois da balada Espírito Santo, um tema com o ambiente das composições do pós-hard-bop que Wayne Shorter adoraria tocar junto, com certeza, e eu já devo ter ouvido essa jóia do CD tantas vezes que o tema toca na minha jukebox mental involuntariamente, senhoras e senhores.
Genial - A sétima faixa do disco é, por coincidência ou não, um compasso 7/8 e esse tipo de sincronismo ou detalhe moldam a música genial de Barrosinho. Rosemary, que, com clima Black Rio-Duke Ellington, pode tanto extasiar os nossos ouvidos contemplativos quanto freqüentar os pubs londrinos ávidos e atentos por novos ''Rare-Grooves''. A complexidade rítmica dos Maracatambas é motivo de estudo para se entender a evolução da música afro-brasileira. Com influência da música européia, a híbrida Amay, com o dueto violão e trompete de Gabriel Improta e Barrosinho, emociona pela versatilidade inteligente da harmonia e da melodia presentes nas composições do CD. Fazendo um paralelo da importância do maestro Moacir Santos na música brasileira, assim como Gil Evans e Charles Mingus tiveram nos EUA, Barrosinho anda por outros trilhos, mas é John Coltrane puro, o que infelizmente com menos oportunidades de realização de uma obra tão importante. Coisas das quais o país do futebol deveria se envergonhar....
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