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Depois de meia hora de conversa por telefone, o desabafo. "Estou cansado dessas entrevistas do tipo 'essa é minha vida'". Então está certo, papo encerrado. Mas, João Theodoro Meirelles, convenhamos, essa é sua vida:
*Aos 20 anos, montou um grupo para abrir as apresentações do trumpetista norte-americano Dizzy Gillespie na TV Record.
*Em 1963, construiu os arranjos de sopros para metade das músicas de um disco considerado, por muitos, um dos melhores da história da música brasileira -- "Samba Esquema Novo", o primeiro álbum da inspirada discografia de Jorge Ben. Entre suas jóias, a ultra-conhecida (e nem por isso desgastada) introdução vibrante do clássico "Mas Que Nada".
*Nos dois anos seguintes, mais um PEQUENO feito: à frente do grupo Copa 5, lançou, respectivamente, os instrumentais "O Som" e "O Novo Som", dois álbuns essenciais para entender o gênero conhecido atualmente como samba-jazz. O primeiro, com seis faixas, apresenta o CLÁSSICO "Quintessência" -- adotado por outros músicos como uma espécie de cartão de visitas de toda uma geração e regravado pelos grupos Os Cobras (em 1964), Zumba 5 (no mesmo ano) e pelo baterista Edison Machado em "Edison Machado é Samba Novo" (em 63, em versão, portanto, anterior à concebida por seu próprio compositor). Aqui, deve-se acrescentar:
1) O Copa 5 era uma verdadeira seleção de músicos, que em sua primeira formação, reunia Luiz Carlos Vinhas (piano), Dom Hum Romão (bateria), Manoel Gusmão (baixo) e Pedro Paulo (trumpete). Para gravar "O Novo Som", o grupo se recompôs com outro escrete de craques, além da permanência de Gusmão: Eumir Deodato (piano), Edison Machado (bateria), Roberto Menescal (violão) e Waltel Branco (guitarra). Só gente grande -- embora, na época, todos eles não passassem de "moleques" com seus vinte e poucos anos.
2) Os Cobras também não eram brincadeira: Milton Banana (bateria), Tenório Jr. (piano), Raul de Souza (trombone), Zezinho (baixo) e Hamilton Cruz (piston), com participações do próprio Meirelles (sax) e Paulo Moura (sax).
3) E o grupo de Edison Machado? Além do pulso do próprio no comando das baquetas, arranjos de Moacir Santos e Paulo Moura, sopros de Meirelles, Raul de Souza, Edson Maciel (trombone) e Pedro Paulo (piston), além do piano de Tenório Jr. e o baixo de Tião Neto.
* Depois de gravar a dobradinha, o saxofonista debruçou-se em outros projetos menos inspirados em sofisticação mas igualmente instigantes, apenas com versões para músicas de outros compositores: "Meirelles e os Copa 7" (1969) e "Brasillian Explosion" (1974). ´
* Desistiu da carreira solo, tornou-se arranjador contratado, não compôs absolutamente nada entre 1965 e 2000 e, de quebra, decidiu abandonar definitivamente a música em 1995. Vendeu o sax para estudar informática.
* Embalado por uma onda de relançamentos em CDs dos discos mais emblemáticos do samba-jazz, Meirelles se convence em voltar à música, voltar ao sax, voltar à composição. Ufa. Lança "Samba-Jazz" pelo selo Dubas, em 2002, com uma outra formação do Copa 5 e dez músicas novas.
* Para não perder o costume, reformula totalmente mais uma vez o Copa 5 para gravar o recém-lançado "Esquema Novo". O repertório apresenta quatro faixas inéditas, quatro regravações para músicas do compositor (entre elas, "Quintessência") e quatro versões para algumas de suas músicas preferidas -- "Naima" (John Coltrane), "Casa Forte" (Edu Lobo), "Vera Cruz" (Milton Nascimento e Márcio Borges) e "Céu e Mar" (Johnny Alf). Entre suas composições novas, a faixa-título recupera o fraseado clássico da introdução de "Mas Que Nada" e o transporta para um novo contexto, outro arranjo.
Aos 64 anos, o músico sente-se cansado de falar sobre tudo isso mais uma vez. Quer olhar para frente, conversar sobre o presente. Mas os parágrafos acima contam uma história impossível de se ignorar. Além de deixar sua marca como arranjador e compositor, Meirelles é protagonista de um épico de ascensão-queda-ascensão no mínimo intrigante. A Radiola Urbana armou uma escuta telefônica para tentar desvendar mais esse caso instigante da música brasileira mas esbarrou na resistência do entrevistado.
Excêntrico? Talvez. Em show realizado recentemente no Teatro do Sesc Pompéia, Meirelles demonstrou alguns traços de um certo excesso de profissionalismo. Enclausurou a apresentação no repertório de "Esquema Novo", negou-se com argumento meio rabugento em fazer um bis (mesmo diante da sincera insistência do público) e não permitiu à sua banda muitos improvisos livres das amarras da partitura. Fez um show frio. Cuidadoso, preciosista, perfeccionista até. Mas frio. Diferente do que se viu, por exemplo, na performance de seu contemporâneo Raul de Souza na mesma semana, na Galeria Olido. Mais solto, desceu a lenha no trombone para um público pequeno e deixou seus músicos acompanhantes à vontade (mesmo) para solar, improvisar, criar.
Embora o compositor goste de falar que nos anos 60 não havia palco para sua geração fazer show, sua apresentação no Sesc bateu aquele saudosismo que ele tanto evita. Deu vontade de ouvi-lo nas sessões de improviso do Beco das Garrafas -- onde os temas do samba-jazz foram ensaiados e experimentados antes de chegarem às gravações definitivas. Por causa do fascínio e curiosidade pela atmosfera que circulava naquele ambiente, a entrevista a seguir insiste na recuperação das memórias do mestre até ele se cansar. E a conversa parou justamente na hora da revelação de que gravações inéditas, de shows realizados nos meados dos anos 70, podem reservar um tesouro secreto do samba-jazz. Mas nem adianta insistir, o músico não quer falar disso.
Por que recriar parte do fraseado do arranjo original de “Mas Que Nada” para “Esquema Novo”? Foi uma idéia que me ocorreu porque a música e o arranjo ficaram muito conhecidos e as frases são minhas, não do Jorge Ben. Fiz uma música com as mesmas frases em outro arranjo, criei uma segunda parte e ficou legal. Quis reaproveitar um trabalho meu antigo, acho legal.
Por que regravar “Quintessência”? Fiz uma releitura, o arranjo é diferente. Passei a usar nos meus shows novos arranjos tanto de “Quintessência” como de “Solo”, depois achei legal gravar. São quatro músicas minhas antigas, quatro novas e quatro regravações de composições de outros artistas.
Você concorda que “Quintessência” pode ser considerado um dos maiores clássicos do samba-jazz? Eu não sei, os outros é que acham. Eu brinco, digo que é o meu hit. As pessoas é que sabem. Quem gosta do que eu faço sempre identifica essa faixa, que foi a primeira que eu gravei.
Você se lembra como surgiu esse tema? Quando gravei “O Som”, já tinha composto os temas do disco, a gente já vinha tocando em apresentações. Não me lembro exatamente, foi no finalzinho de 1963. Eu tinha voltado para o Rio depois de tocar em São Paulo na Orquestra do Sylvio Mazzuca. Voltei para o Rio, formei o Copa 5 e o Jorge Ben nos chamou para gravar. Aproveitamos e já gravamos o disco do Copa 5 também. Com a gravação do Jorge, a gravadora nos conheceu e nos convidou para fazer um disco nosso. Perguntaram se a gente tinha material próprio e já estava tudo ensaiado, gravamos as músicas que a gente já tocava no Beco das Garrafas. Foi só marcar a gravação, mais ou menos um mês depois.
Quando você criou o tema, pressentiu que tinha surgido um clássico? Não, ninguém pensa nisso. Era somente uma das minhas composições daquela época. Quando fiz a música eu nem pensava em gravar, aliás.
Você gravou o “Neurótico” também, que o Sérgio Mendes já tinha gravado em "Você Ainda Não Ouviu Nada" (outro disco do fértil 1964, com o baixista Tião Neto, o baterista Edison Machado, os trombonistas Edson Maciel e Raul de Souza, os saxofonistas Hector Costita e Aurino Ferreira e o pianista Sérgio Mendes). Você acha que sua versão está mais perto da versão ideal? A do Sérgio Mendes é bem mais curta... Aquele arranjo fui eu que fiz para o Sérgio Mendes. Ele me ouviu ensaiando e pediu o arranjo. Não toco no disco mas o arranjo é meu. Tudo que o Sérgio Mendes fazia era meio assim, com uma proposta comercial. Naquele disco, que é muito bom por sinal, todas as faixas são curtas por dois motivos. Primeiro porque ele queria gravar toda aquela quantidade de músicas e o disco em vinil tinha uma limitação de tempo. E ele sempre pensou de um jeito diferente do meu, fazia músicas para tocar no rádio. Eu toco mais à vontade, sem esse tipo de preocupação. E a versão que está no disco é a mesma que eu vou tocar no show do Sesc. Será o repertório inteiro do disco novo.
E algumas antigas, também? Não, nem bis eu vou fazer.
Sério? Por quê? Porque é um show de lançamento desse disco, é só o repertório dele, que já tem uma hora e meia de show.
Bom, voltando ao Jorge Ben... Ele tinha uma batida diferente no violão e a pegada do Copa 5 se encaixa direitinho...As coisas se encaixam porque a gente já vinha tocando essa música (“Mas Que Nada”) no Beco das Garrafas. Ele já aparecia para dar canja e a gente já gostava da música. Quando chegamos no estúdio só fiz a composição dos arranjos. Gravamos o compacto, com “Mas Que Nada” e “Por Causa de Você, Menina”. Devido ao sucesso dessas duas músicas, a gravadora acabou se interessando em fazer o LP. Participamos nos três primeiros discos do Jorge Ben. Arranjei mais ou menos a metade das músicas dos três.
Engraçado pensar que tanto você como o Jorge Ben apareceram para a música brasileira com “Mas Que Nada”, mas cada um foi para um lado...Eram coisas diferentes a minha música, instrumental, e a do Jorge. Ele tinha as idéias dele, sempre gostou de pop e rock. Partiu para um som com mais energia, mais pesado.
Mais comercial também. Lógico, esse era o negócio dele.
Seu primeiro disco traz seis músicas suas e o segundo tem algumas versões... Porque, em "O Novo Som", eu tive comigo alguns músicos que têm muito a ver com bossa nova: o Menescal, o Deodato... Em vez do samba-jazz, quis fazer um disco de bossa-jazz. Até minhas composições, nesse disco, iam mais para esse lado.
E como apareceu essa batida do samba-jazz? Nos últimos anos é que a mídia começou a rotular o tipo de música instrumental que a gente fazia nos anos 60. Naquela época não tinha nome nenhum. Toda época tem isso: vários músicos com a mesma maneira de tocar, com as mesmas influências, isso é muito natural. Não tinha nada a ver com a bossa nova, era uma coisa daquela época, do final dos anos 50. Eu comecei em 1958 no Rio -- porque em São Paulo não tinha isso, era só o jazz norte-americano. No Rio isso já existia com músicos mais velhos que eu, que tocavam samba com improvisação. Era a Turma da Gafieira, com Sivuca, Edison Machado, Zé Bodega. Nos anos 50 eles já tinham essa pegada.
O João Donato foi importante nesse cenário? Sim porque ele tinha as composições dele com muita improvisação, estilo próprio. Ele participava disso, eu mesmo comecei tocando com ele. Depois, foi para os Estados Unidos e ficou muitos anos lá. No período que ficou no Rio, participava disso, sempre improvisou muito bem.
E o Charlie Parker? É uma influência para você? Acho que depois do Charlie Parker, a maior parte dos saxofonistas sofreram de alguma forma influência do estilo dele. Ele tinha uma linguagem muito própria de saxofone. Se bem que ele tocava sax alto, eu toco tenor. No tenor, minha influência era de um sujeito do bebop, o Sonny Rollins, também do Johnny Griffin e muita coisa do Stan Getz. Minha influência no tenor mistura coisas dos três. O Parker foi uma influência pela maneira que colocava uma linguagem própria a partir do bebop, diferente do que existiu antes dele.
Entre 1965 e 2000, você parou de compor. Por quê? Depois daqueles discos, percebi que não tinha espaço para se viver de música instrumental. Eu era muito novo, tinha 23 anos, quis continuar minha carreira como profissional, arranjador, produtor, instrumentista. E nunca acreditei que retomaria o projeto inicial dos Copa 5. Só atualmente que aqueles discos se tornaram cult, fui procurado para relançá-los pela gravadora do Ronaldo Bastos. Daí gravei dois discos novos, “Samba Jazz!” (de 2002) e “Esquema Novo” (2005). É bom porque na época de “O Som” e “O Novo Som”, eles só existiam em disco, não tinha palco para a gente tocar. A gente fazia jam sessions no Beco das Garrafas (boate carioca) mas não fazíamos shows dos nossos discos. Sou do palco ao vivo há uns três anos. Sou dos mais novos e dos mais antigos ao mesmo tempo.
Recentemente foram encontradas gravações inéditas do João Donato. Você acha que pode acontecer o mesmo com você? Não, acho que não. Tenho só alguma coisa de umas apresentações que eu e um grupo meu fazíamos todas as noites, em um mesmo lugar. São coisas de 1976, sem muita qualidade de gravação. Era um grupo muito bom. Mas eu não quero falar disso.
Por quê? Porque isso não tem importância para mim, estou interessado em falar do meu trabalho atual, eu estou no hoje. Essa coisa do passado parte muito mais de fora para dentro do que de dentro para fora. Estou cansado dessas entrevistas tipo “essa é minha vida”. Desculpe mas estou sendo franco com você.
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Founder (in 1963) and leader of the memorable samba-jazz group Copa 5, (Manuel Gusmão, bass; Luís Carlos Vinhas, piano; Dom Um Romão, drums; and Pedro Paulo, bass), J. T. Meirelles recorded with the group in 1964 the landmark LP O Som, signing the arrangements for the tracks "Quintessência," "Solitude," "Blue Bottle's," "Nordeste," "Comtemplação," and "Tânia," all written by himself. The next album, O Novo Som, brought a new formation with Eumir Deodato (piano), Edson Machado (drums), Roberto Menescal (guitar), Waltel Branco (electric guitar) and Manoel Gusmão (bass), with the originals "O Novo Som," "Solo" and "Serelepe." Meirelles worked throughout his career with instrumental groups like Azymuth, Hermeto Pascoal's, Helvius Vilela's, Antônio Adolfo's and João Donato's, having also backed vocalists/instrumentalists Jorge Ben, Agostinho dos Santos, Silvinha Telles, Edu Lobo, Rosinha de Valença, Maria Bethânia, Simone, Francis Hime, Fafá de Belém, Miúcha, Roberto Carlos, Flora Purim, Wagner Tiso, Leny Andrade, Os Cariocas, Fagner, Clara Nunes, Emílio Santiago, Alcione, Maria Bethânia, Pery Ribeiro, Nara Leão, Gilberto Gil, Tito Madi, Wilson Simonal, Geraldo Vandré, Taiguara, Dóris Monteiro, Chico Buarque, and Lisa Ono, among others. As a producer he worked for Gonzaguinha, Peri Ribeiro, Tito Madi, Ed Maciel, Rosa Maria, Severino Araújo's Orquestra Tabajara and Sexteto Radamés Gnattali. In ostracism in the 80s and 90s, he was rediscovered by journalist José Domingos Raffaelli in 2000, who invited him for the jazz sessions held at the bar of the Hotel Novo Mundo (Rio de janeiro), which brought him to the instrumental music forefront again. In 2001 the LP O Som was reissued in CD by Dubas Música and O Novo Som was re-masterized.
Having started in music at eight, J. T. Meirelles studied composition and arranging at Berklee School of Music (Boston, Mass.). His professional debut was at 17 as João Donato's saxophonist. Next he moved to São Paulo, where he worked with Luís Loy. Returning to Rio in 1963 Meirelles formed the Copa 5, which debuted at the Bottle's Bar, at the Beco das Garrafas (Rio). In that same year he wrote the arrangement for the original recording of "Mas Que Nada," Jorge Ben Jor's first hit. From 1964 to 1975 he worked as an instrumentalist, conductor, arranger and producer at Odeon. In 1965 and 1967 he wrote several arrangements for different editions of the historic Festival Internacional da Canção (International Song Festival, TV Globo), having performed in 1966 in the Berlin Jazz Festival (Germany), with Edu Lobo, Rosinha de Valença, Dom Salvador and Sérgio Barroso. In 1967 he participated in the inauguration of the Canecão room (Rio), working there during the entire year. From 1969 to 1971 Meirelles was EMI-Odeon's (São Paulo) A&R, where he performed regularly with the Luís Loy Quinteto. Back to Rio in 1971 he resumed his work at EMI-Odeon until 1975. Moving then to Mexico, he was hired by the Gimmicks of Sweden, with which he moved to Europe, where he lived for several years (France, Sweden and Monte Carlo), working with several orchestras (like Aimée Barelli's).